Deputados questionam aquisição superfaturada de vacina indiana
Deputados do PCdoB afirmaram que não há argumento que justifique a compra da vacina indiana Covaxin pelo valor mais caro do mercado. Reportagem do Estadão apontou que o governo Bolsonaro comprou o imunizante por um preço 1.000% maior do que o estimado pelo fabricante seis meses antes.
A reportagem foi baseada em documentos do Ministério das Relações Exteriores ao qual o jornal teve acesso e aponta que a Covaxin, produzida pela Bharat Biotech, tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia “custaria menos do que uma garrafa de água”. Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) – a mais cara das seis vacinas compradas até agora.
A ordem para a aquisição da vacina partiu pessoalmente do presidente Jair Bolsonaro. A negociação durou três meses, um prazo bem mais curto que o de outros acordos.
“Indecentes! Não há argumento legal ou moral que justifique a compra da Covaxin, sem autorização da Anvisa e sem intermediários da indústria, pelo valor mais caro do mercado e com o desfecho mais rápido. O que Bolsonaro e a sua quadrilha estão fazendo com o Brasil?”, questionou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Já o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que tem gente “ganhando dinheiro com a morte dos brasileiros”. “Tem gato na tuba! Bolsonaro, que usava a falta de autorização da Anvisa como desculpa para a sabotagem às vacinas, assinou contrato de compra da Covaxin (Precisa) sem aval e pelo maior preço entre todos os imunizantes. É seguir o dinheiro. Se puxar a pena, sai uma galinha”, afirmou.
Diferentemente dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no país ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI da Covid, que na semana passada autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Maximiano. O depoimento do empresário na comissão está marcado para amanhã.
Os senadores querem entender o motivo de o contrato para a compra da Covaxin ter sido intermediado pela Precisa, que em agosto foi alvo do Ministério Público do Distrito Federal sob acusação de fraude na venda de testes rápidos para Covid-19. Na ocasião, a cúpula da Secretaria de Saúde do governo do DF foi denunciada sob acusação de ter favorecido a empresa em um contrato de R$ 21 milhões.
A Precisa tem como sócia uma outra empresa já conhecida por irregularidades envolvendo o Ministério da Saúde – a Global Gestão em Saúde S. A. Ela é alvo de ação na Justiça Federal do DF por ter recebido R$ 20 milhões da pasta para fornecer remédios que nunca foram entregues. O negócio foi feito em 2017, quando o ministério era chefiado pelo atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), do Centrão. Passados mais de três anos, o ministério diz que ainda negocia o ressarcimento.
De acordo com a reportagem, um servidor do Ministério da Saúde afirmou em depoimento ao Ministério Público, que “pressões anormais” foram feitas para a aquisição da Covaxin. O funcionário relatou ter recebido “mensagens de texto, e-mails, telefonemas, pedidos de reuniões” fora de seu horário de expediente, em sábados e domingos. Esse depoimento está em poder da CPI.
O servidor assegurou que esse tipo de postura não ocorreu em relação a outras vacinas.
Por Christiane Peres
Com informações do Estadão
(PL)