Deputados macristas tentam frear lei contra ‘ecocídio’ na Argentina
Com uma propagação de incêndios que destruiu vastas áreas de reservas ambientais, em especial na província (Estado) de Córdoba, a bancada Frente de Todos, integrante da base do governo federal argentino, leva ao Congresso a proposta de proibição de mudança de finalidade e de manutenção da reserva, mesmo incendiada, por 60 anos. A medida busca inibir os incêndios provocados por grandes proprietários rurais ou incorporadoras imobiliárias que ateiam fogo a florestas e pântanos para depois ocupar áreas devastadas. O funesto ataque a áreas de reserva ambiental é denunciado pelo deputado Máximo Kirchner, autor do projeto, como “ecocídio”.
Os deputados macristas, alguns deles membros da Sociedad Rural, se mobilizam para impedir a aprovação da medida de proteção de reservas.
Na região, aos bombeiros se unem milhares de brigadistas voluntários para deter as chamas. O governo federal baixou um decreto concedendo a todos os profissionais envolvidos na luta contra os incêndios florestais, um bônus de 30 mil pesos (equivalente a R$ 2.160,00) distribuídos em três parcelas nos meses de outubro, novembro e dezembro.
O projeto apresentado pelo deputado Kirchner, modifica o artigo 22 da Norma sobre Seguro Ambiental para estabelecer uma proibição por 60 anos de qualquer modificação ambiental em superfícies atingidas por incêndios em “bosques nativos, áreas naturais e úmidas”.
A Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Deputados deve emitir parecer ainda esta semana sobre o projeto original de forma a enviá-lo a plenário.
Essa lei deve contar com o apoio de uma ampla frente parlamentar. Já subscreveram a emenda Eduardo Bucca (bloco Justicialista), Graciela Camaño (Consenso Federal) e José Luis Ramón (Unidad y Equidad Federal). Ao que tudo indica, somente os macristas da bancada Juntos por el Cambio, se preparam para lhe fazer oposição.
Uma das declarações mais descabidas partiu da senadora Laura Rodríguez Machado. Ela afirmou que “deve-se deixar de lado toda essa história de que queimam para urbanizar”.
O fogo das queimadas também chega a atingir pastos e mesmo plantações de soja, em locais onde os defensivos e a monocultura causam ressecamento do solo, facilitando o alastramento das chamas.
Com as chamas tomando áreas preservadas inteiras e grandes proprietários sob investigação, a senadora macrista acrescentou que “nesses lugares nada acontece”.
Em declarações ao jornal Página/12, a bióloga CeciliaDiminichalertaque a queima de bosques, montes e mesmo pastagens impacta a biodiversidade. Para ela, “o dano se verá a médio prazo”, além de deter o fogo agora, deve-se prevenir futuros incêndios pois “só assim estas zonas poderão se recuperar. Mas se voltam os incêndios, de forma recorrente, estas áreas perdem seu potencial”.
Diminich, que vive em Valle Hermoso, uma das regiões atingidas, tem procurado ajudar na luta contra a propagação do fogo levando “frutas e colírio para os bombeiros, cremes para as queimaduras e remédios para os locais onde há animais resgatados”.
“O plano provincial de manejo não consegue impedir que se queime o monte, a flora; que ninhos peguem fogo. Aves voam, os mamíferos pequenos às vezes conseguem escapar, mas há vida também debaixo da terra, onde não a enxergamos, uma grande quantidade de espécies, como anfíbios, repteis ou insetos, que não conseguem escapar”, diz ela.
Um dos principais contestadores do projeto é o ex-ministro do Interior do governo Macri, Rogelio Frigerio, que como denuncia o bloco Frente de Todos, “é um empresário imobiliário do delta do Paraná. É sócio em pelo menos duas empresas que se dedicam a estes negócios e converteu um campo pantanoso em Villa Paranacito em um condomínio fechado”.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Leonardo Grosso denuncia que os opositores do projeto “se mostram preocupados com o meio ambiente, mas quando se tem que que decidir entre o ecossistema e seus interesses imediatos, elegem seus negócios”.