Após o apagão de dados nas plataformas Lattes e Carlos Chagas, que escancarou a fragilidade da infraestrutura do  Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as preocupações de amplos setores da sociedade se voltam para o crescente e contínuo processo de estrangulamento financeiro da instituição.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado, de um orçamento de R$ 3 bilhões em 2014 (em valores atualizados para junho de 2021), o CNPq perde mais de R$ 1 bilhão no orçamento de 2016, e chega neste ano com um valor previsto de R$ 1,27 bilhões, inferior a qualquer dotação orçamentária que o órgão teve no presente século.

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado federal Renildo Calheiros (PE), o corte nas verbas na principal agência de suporte à atividade científica no país revela a “triste realidade da Ciência e Tecnologia no governo Bolsonaro”. “Com mais de 70 anos de atividade, o CNPq vive o momento de maior penúria financeira de sua história”, escreveu no Twitter.

Em seu perfil na rede social, o parlamentar manifestou preocupação com as consequências do apagão nos sistemas de internet da instituição. “Não se sabe também se haverá perda de dados, devido à ausência de backup do sistema”, lamentou.

Apagão

No último fim de semana, pesquisadores denunciaram que não estavam conseguindo acessar a plataforma Lattes. Esses diretórios reúnem todos os dados das atividades acadêmicas, currículos e pesquisa de brasileiros e estrangeiros. De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, houve problema em uma peça de um dos computadores e uma empresa foi contratada para fazer o reparo. No entanto, pesquisadores estão preocupados com a situação de bolsas, pesquisas e do próprio CNPq, que sofre com redução de orçamento e de pessoal.

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) também usou as redes sociais para denunciar o descaso do governo com a ciência. No Twitter, ela alertou que “anos de história da Ciência no país” podem ser perdidos com o apagão nos sistemas de informática da agência.

Para a deputada, entre tantos problemas que os pesquisadores brasileiros enfrentam, “o maior deve ser a tragédia q é p a Ciência ter Bolsonaro presidente”.

SBPC

Em um texto publicado na noite de quarta-feira (28), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência manifestou “consternação e preocupação” com a fragilidade da infraestrutura do CNPq. “A SBPC solicita ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) que providências imediatas sejam tomadas para que o CNPq restabeleça em sua plenitude a capacidade de atuar estrategicamente no desenvolvimento da pesquisa, ciência, tecnologia e inovação do Brasil, como o vem fazendo há 70 anos”.

 

Por Walter Félix

 

(PL)