Deputados do PCdoB repudiam ataque de Eduardo Bolsonaro à China
O clã Bolsonaro deu início a uma nova crise esta semana. Desta vez, diplomática. Isso porque, o filho “Zero Três” do presidente da República decidiu usar suas redes sociais na quarta-feira (18) para atacar a China. Em um tuíte, escreveu que a “culpa” pela crise do coronavírus é daquele país.
O assunto ganhou destaque entre os parlamentares do PCdoB. A líder da bancada, deputada Perpétua Almeida (AC), que já presidiu a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, criticou a postura do filho “Zero Três” de Bolsonaro. Segundo ela, “os Bolsonaros, pai e filhos, deveriam entrar em quarentena verbal”.
“É um desastre atrás do outro. O “Zero Três” acaba de criar mais uma crise diplomática. Desta vez com um país do qual o Brasil depende muito, a China”, destacou.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, desde 2009 a China é o principal parceiro comercial do Brasil, sendo uma das nossas principais fontes de investimento externo e é desde 2012 o principal fornecedor de produtos importados pelo Brasil.
Vice-líder do PCdoB na Câmara, o deputado Márcio Jerry (MA) afirmou que o ataque de Eduardo Bolsonaro à China merece repulsa absoluta. “Imbecilidade sem tamanho, ainda mais sendo ele presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. A China é o país com maior volume de relações comerciais com o Brasil”, pontuou.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também criticou a postura de Bolsonaro e afirmou que o “clã está sempre atrapalhando o Brasil”.
Já a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) reafirmou o apoio da bancada do PCdoB à Embaixada da China e reiterou o pedido de desculpas “pela ignorância do filho do presidente”. “Sempre reconhecemos a importância da China no mundo, seja economicamente, seja na luta contra o coronavírus. Sigamos!”, afirmou.
O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), presidente do Grupo Parlamentar Brasil-China, também reforçou a importância das relações entre as duas nações. Para ele, o comportamento de Eduardo Bolsonaro está de longe de corresponder ao que pensa o parlamento ou o país.
“As relações entre o nosso país e a China são de amizade, cooperação, respeito mútuo. As relações comerciais e políticas terão de ser aprofundadas. Esse tipo de comportamento não pode corresponder àquilo que é o desejo das duas nações, principalmente nesse momento de crise humanitária. A China é referência. Enfrentou o coronavírus. Precisamos olhar e nos beneficiar daquilo que foi feito de positivo. Peço desculpas ao povo chinês e vamos continuar defendendo essa amizade, cada vez maior e mais sólida”, destacou.
Entenda o caso
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. […] Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. […] A culpa é da China e liberdade seria a solução”, publicou Eduardo Bolsonaro.
A mensagem teve resposta imediata do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Também via Twitter, repudiou a publicação do deputado e exigiu pedido de desculpas.
“A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e à Câmara dos Deputados”, respondeu Wanming, marcando em sua publicação Eduardo Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O perfil da própria embaixada da China também publicou uma mensagem na qual disse que a afirmação de Eduardo Bolsonaro é “extremamente irresponsável” e ainda ironizou ao dizer que o parlamentar contraiu “vírus mental”.
“As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”, publicou a embaixada.
Os primeiros casos do novo coronavírus foram registrados em Wuhan, na China. Nos últimos meses, os casos se espalharam a ponto de a Organização Mundial de Saúde declarar pandemia – isto é, a OMS reconheceu que o vírus se espalhou por vários continentes.
Na madrugada desta quinta-feira (19), Maia pediu desculpas à China pela declaração de Bolsonaro. “Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador Yang Wanming pelas palavras irrefletidas do deputado Eduardo Bolsonaro”, escreveu Maia em sua conta no Twitter.