O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia do novo coronavírus, acumulando recordes diários de mortes e casos de contaminação pela Covid-19 desde o começo da pandemia. Porém, apesar dos alertas das mais diversas autoridades e instituições de que a situação tende a se agravar nos próximos dias, a negligência do presidente Jair Bolsonaro deixa o Ministério da Saúde sem comando.

Anunciado como futuro ministro da Saúde no último dia 15, o médico Marcelo Queiroga ainda não tomou posse. O cardiologista, o quarto a assumir o cargo desde o começo da pandemia, vai substituir Eduardo Pazuello – que continua na função mesmo depois de ter sido demitido após uma gestão desastrosa.

Em meio ao agravamento contínuo da crise, deputados do PCdoB usaram suas redes sociais nesta segunda-feira (22) para criticar o verdadeiro apagão logístico que se instalou na saúde.

A vice-líder da Bancada na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), disse que o Brasil se encontra em uma situação exótica: “É o único país do mundo que tem dois ministros da saúde e nenhum dos dois manda em nada”. “Já estão chamando o novo ministro da Saúde de viúva Porcina, [aquela que] ‘foi sem nunca ter sido’. Dizem q/ Queiroga não pode assumir: tem contas a acertar c/Justiça, é réu em ação penal contra patrimônio público. E não se afastou de suas empresas ligadas à saúde onde é controlador”, observou.

Perpétua Almeida também comparou o desleixo com a saúde dos brasileiros às cenas registradas no domingo (21), em frente ao Palácio da Alvorada, durante a festa oferecida por Bolsonaro em comemoração aos seus 66 anos de idade, onde foram ignoradas as medidas de prevenção à Covid-19. “Com 300 mil mortos por covid, o presidente faz festa de aniversário em frente ao Palácio, centenas de pessoas sem máscaras e nenhuma declaração do Ministério da Saúde”, criticou.

A todo momento, surgem versões sobre o atraso na posse do novo ministro da Saúde. Uma reportagem da revista Crusoé relata que Marcelo Queiroga não foi oficializado ainda como novo ministro da Saúde porque é réu por apropriação indébita cometida em um hospital que administrou.

Queiroga e outros seis médicos que administravam o Hospital Prontocor, um pronto-socorro cardiológico de João Pessoa, foram denunciados por não recolherem as contribuições previdenciárias descontadas dos salários dos funcionários. A denúncia foi feita pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2006. O caso tramita na 1ª Turma Criminal do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) registrou em sua conta no Twitter que, segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, a demora em nomear o novo ministro da Saúde se deve à tentativa de manter Pazuello com prerrogativa de foro.

A informação também foi confirmada pelo site Congresso Em Foco, para quem fontes do governo afirmaram que a nomeação oficial está sendo adiada porque Bolsonaro está pensando em como proteger o atual ministro, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter se omitido do combate à pandemia.

“Ficamos com mais de 2 mil mortos por dia e sem ministro até Bolsonaro arrumar um lugar para encostar o aliado. Genocida!”, protestou o parlamentar.

A função de sócio-administrador de uma empresa de serviços médicos em João Pessoa (PB), o Cardiocenter – Centro de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Cardíacas, também estaria atrasando a posse do novo titular da Saúde. Ministros de Estado podem ser sócios, mas não administradores de empresas privadas.

O CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) do Cardiocenter informa que Queiroga ainda é, entre os 19 sócios da empresa, que funciona no Hospital Alberto Urquiza Wanderley, da Unimed, o único com a função de administrador.

A deputada Alice Portugal usou o Twitter para questionar quem responde pelo Ministério da Saúde no pior momento da maior crise sanitária da história do pais. “Secretários dizem que não há ‘absolutamente ninguém’ na Saúde enquanto Queiroga não assume e Pazuello não cai! Dois ministros e nada de saúde!”, assinalou.

 

Por Walter Félix

 

(PL)