Deputados criticam tentativa de desovar testes ‘encalhados’ no Haiti
O governo Bolsonaro, por meio do Ministério da Saúde, deseja doar 1 milhão de testes para detectar a Covid-19 como ajuda humanitária para o Haiti. Estes testes fazem parte do estoque que está em um armazém próximo ao aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, com vencimento previsto para abril.
A quantidade de testes é maior do que o governo federal entregou a 24 das 27 unidades da federação do Brasil. Somente São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná receberam volume superior.
Com praticamente o dobro da população do Haiti, Minas Gerais só recebeu 747 mil exames por exemplo. Já o Rio Grande do Sul, que tem população similar à do país caribenho (cerca de 11 milhões de habitantes), ficou com 571 mil testes.
Segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a proposta do governo é uma “lástima”. “O genocida sonegou ao povo brasileiro os testes que poderiam ter evitado milhares de mortes e agora, prestes a vencerem, quer mandar o entulho para vizinhos pobres”, observou em postagem nas redes sociais. Tratada como ato humanitário em documentos oficiais, a doação joga sobre o Haiti a responsabilidade de usar o produto com validade curta.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também criticou a gestão do ministro Eduardo Pazuello no combate à pandemia. “Pelo visto Pazuello, ministro da Saúde e especialista em logística, não entende nada nem de logística nem de saúde…”, escreveu no Twitter.
“ABSURDO!!! Min. Pazuello, ‘especialista em logística’, está deixando milhões de testes de Covid-19 VENCER. Sem testar nossa população agora quer empurrar/descartar para o Haiti e hospitais filantrópicos!!!”, pontuou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Validade
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, os testes em questão fazem parte do estoque de 7,1 milhões de exames do tipo RT-PCR que foram comprados por intermédio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por um valor de R$ 42 por unidade. Inicialmente, a validade dos testes era de oito meses, variando entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.
Mas após estudos da fabricante coreana Seegene, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estendeu este prazo por mais quatro meses, tendo abril como data limite para uso dos testes.
Além do país caribenho, hospitais filantrópicos e Santas Casas de Misericórdia receberam ofertas do governo para absorver os testes encalhados.
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(PL)