Na Convenção Nacional Democrata por teleconferência, o indicado a candidato à presidência, Joe Biden

Por teleconferência devido à pandemia, a Convenção Nacional Democrata aprovou formalmente na terça-feira (18) a indicação de Joe Biden à presidência dos EUA para as eleições do próximo dia 3 de novembro, após a participação, por vídeo, dos ex-presidentes Jimmy Carter e Bill Clinton, do ex-secretário de Estado John Kerry, da esposa e conselheira de Biden, Jill, e ainda da filha e do neto do presidente John F. Kennedy, Caroline e Jack Schlossberg.

O processo formal de votação, também à distância, foi realizado pelas delegações dos 50 estados, da capital e de seis territórios, chamados por ordem alfabética. O voto de Delaware, Estado de Biden, carimbando a indicação, ficou por último.

Lideranças populares, ativistas dos direitos civis, representantes dos imigrantes e das nações indígenas expressaram sua adesão à campanha para barrar mais quatro anos a Trump e sua intolerância, incúria e obscurantismo. 17 políticos em ascensão no partido, como a ex-candidata a governadora da Geórgia, Stacey Abrams, também se apresentaram .

A convenção está sendo transmitida a partir de um estúdio de televisão em Los Angeles. A convenção democrata prossegue até a quinta-feira, dia em que Biden irá aceitar oficialmente a indicação. Na quarta-feira (19), os destaques da programação foram os discursos do ex-presidente Barack Obama e da vice-presidente da chapa de Biden, Kamala Harris.

Pelas regras da convenção, mesmo tendo aberto mão da campanha e anunciado apoio a Biden, como segundo mais votado nas primárias o senador Bernie Sanders também teve seus votos computados, com a apresentação de seu nome ficando por conta da deputada por Nova York Alexandria Ocasio-Cortez e um ex-sindicalista.

Na primeira noite, Sanders e a mulher do ex-presidente Barack Obama, Michelle, convocaram os norte-americanos a se unirem para derrotar Trump, em dois discursos demolidores.

Sanders afirmou que os EUA vivem “uma crise sem precedentes” – a pior pandemia em 100 anos, o pior colapso econômico desde a Grande Depressão, racismo sistemático e a ameaça da mudança climática.

Ele chamou a eleição de novembro de “a mais importante na história moderna” dos EUA, quando há um presidente [Trump] “que não apenas é incapaz de dar conta dessa crise, como está nos levando para o caminho do autoritarismo”.

Bernie Sanders: “Precisamos de uma resposta sem precedentes: progressistas, moderados e, sim, conservadores a se unirem em defesa da democracia que está em jogo. Precisamos de Joe Biden como o nosso próximo presidente”

“Precisamos de uma resposta sem precedentes”, reiterou, convocando “progressistas, moderados e, sim, conservadores” a se unirem em defesa da democracia, “que está em jogo”. “Precisamos de Joe Biden como o nosso próximo presidente”.

Michelle Obama fez menção às palavras do próprio Trump, quando questionado sobre o abissal número de mortes da pandemia: “é o que é” (o equivalente de Trump para o ‘e daí?’ de Jair Messias).

“[Trump] teve tempo mais do que suficiente para provar que pode fazer o trabalho, mas está claramente perdido. Ele não pode enfrentar este momento”, disse Michelle. “Ele simplesmente não pode ser quem precisamos que ele seja para nós. É o que é.”

Ela apontou-o ainda como o “presidente errado” e sem empatia.

“Nos últimos quatro anos, muitas pessoas me perguntaram:‘ Quando os outros estão indo tão baixo, ir alto ainda funciona?’”, disse Michelle no vídeo. “Minha resposta: elevar é a única coisa que funciona. Porque quando nos rebaixamos – quando usamos as mesmas táticas de degradar e desumanizar os outros – nos tornamos parte do ruído horrendo que está abafando tudo o mais. Nós nos degradamos. Nós degradamos as próprias causas pelas quais lutamos”.

Mas – apontou – “sejamos claros: ir alto não significa sorrir e dizer coisas boas quando confrontado com maldade e crueldade”.

O governador do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, que falou na primeira noite, assinalou “o fracasso de um governo que tentou negar o vírus, depois tentou ignorá-lo e depois tentou politizá-lo”.

“Só um corpo forte pode lutar contra o vírus. E as divisões da América o enfraqueceram”, disse Cuomo.

Ao defender o nome de Biden, ele enfatizou que o país precisa agora de um líder “que apela para o melhor dentro de nós, não o pior, um líder que pode unificar, não dividir, um líder que pode nos elevar, não nos destruir”.

Na terça-feira, Carter e sua esposa Rosalyn conclamaram a América a eleger Biden, com o nonagenário ex-presidente afirmando que os americanos merecem “uma pessoa com integridade e julgamento” e que esteja “comprometido com o que é melhor para o povo americano.”

Já Clinton afirmou que a Casa Branca se tornou “um centro de tempestade” e “caos”, ao invés de um “centro de comando” contra a crise. “Se você quer um presidente que define o trabalho como passar horas por dia assistindo TV e atacando pessoas nas redes sociais, ele é o seu homem”, provocou Clinton.

Ele ironizou Trump se gabando de “liderar o mundo”. “Bem, somos a única grande economia industrial a ter sua taxa de desemprego triplicada”. Clinton concluiu dizendo aos eleitores: “você sabe o que Donald Trump fará com mais quatro anos: culpar, intimidar e depreciar. E você sabe o que Joe Biden fará: reconstruir melhor.”

Na segunda noite falaram ainda o líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schummer – que chamou o governo Trump de “um longo pesadelo nacional” e o ex-secretário de Estado John Kelly.

Jill Biden, a esposa do candidato democrata, afirmou que Joe Biden é a pessoa certa para enfrentar a crise da Covid-19, que causou mais de 5 milhões de infectados e matou 170 mil norte-americanos, devastou a economia, destroçou famílias e esvaziou as escolas.

Lembrando os duros percalços na vida de Biden – que perdeu a primeira esposa e uma filha e, mais recentemente, perdeu um filho -, ela indagou “como fazer com que uma família destruída se sinta completa outra vez?”. Respondeu dizendo que é “da mesma forma que se reconstrói uma nação. Com amor e compreensão. Com coragem. Com uma fé inabalável”.

A ampliação da Frente para além da divisa partidária está presente na Convenção, em primeiro, com a participação do ex-governador republicano de Ohio e ex-pré-candidato em 2016, John Kasich.

“Sou um republicano vitalício, mas esse apego ocupa o segundo lugar em relação à minha responsabilidade para com meu país”, disse ele. “É por isso que escolhi aparecer nesta convenção. Em tempos normais, algo assim provavelmente jamais aconteceria”. Mas – sublinhou – “estes não são tempos normais.”

Kasich enfatizou a reputação de Biden como um democrata moderado e disse que os republicanos e independentes não devem temer apoiá-lo.

No segundo dia, foi a vez do vídeo em que a viúva do senador e ex-candidato republicano John McCain, Cindy, exalta a amizade entre os dois, em apoio a Biden.

Também manifestaram endosso a Biden o ex-secretário de Estado e ex-chefe de Estado Maior, o republicano Collin Powell, e a ex-procuradora-geral Sally Yates, que denunciou a sabotagem dos Correios por Trump, para tentar impedir que as pessoas votem.

Na abertura, um dos momentos de emoção foi a homenagem aos cidadãos negros mortos por policiais racistas, com a presença do irmão de George Floyd, cujo linchamento provocou um levante de costa a costa.

“Pelos nomes que não sabemos, os rostos que nunca veremos, aqueles que não podem lamentar porque seus assassinatos não se tornaram virais, junte-se a mim em um momento de silêncio para homenagear George e as muitas outras almas que perdemos ao ódio e à injustiça ”, disse Philonise Floyd. “E quando esse momento acabar, vamos ter certeza de nunca parar de dizer seus nomes.”

Na homenagem, participaram ainda o diretor da principal entidade antirracista dos EUA, Derrick Johnson, da NAACP, a mãe de Eric Garner – o camelô estrangulado em Nova York por um policial -, Gwen Carr, e o chefe de polícia de Houston, Art Acevedo.

Artistas também expressaram seu apoio a Biden e Kamala. Na noite de terça-feira, as principais atrações foram a filha da lendária Diana Ross, a atriz Tracee Ellis Ross, e o cantor John Legend.

De volta aos oito minutos de discurso de Sanders. “Isso é o mais básico: esta eleição é sobre preservar nossa democracia”. Ele acrescentou que durante o mandato de Trump, “o impensável se tornou normal”

“Ele está tentando impedir o povo de votar. Está sabotando os Correios. Lançou militares e agentes federais contra protestos pacíficos. Ameaçou adiar as eleições e sugeriu que não deixará o cargo se perder”, advertiu.

“Sob este governo, o autoritarismo fincou raízes em nosso país. Eu e minha família e muitas pessoas como você sabem como o autoritarismo insidiosamente destrói a democracia, a decência e o senso de humanidade”.

“Joe acabará com o ódio e a divisão que Trump criou. Ele irá parar com a demonização dos imigrantes, o estímulo dos supremacistas brancos, a confrontação racial, a intolerância religiosa e os repulsivos ataques às mulheres”, ressaltou.

O veterano senador progressista se dirigiu “a todos os que apoiaram outros candidatos nas primárias e àqueles que deram seu voto a Donald Trump na eleição passada”.

“O futuro de nossa democracia está em jogo. O futuro de nossa economia está em jogo. O futuro do nosso planeta está em jogo. Nós temos que chegar juntos, para derrotar Donald Trump e eleger Joe Biden e Kamala Harris”, enfatizou.

O preço do fracasso – alertou Sanders – “é grande demais para imaginar”.