Delegado Alexandre Saraiva

O delegado Alexandre Saraiva, da Polícia Federal, transferido da Superintendência da PF no Amazonas após enviar ao STF um pedido de investigação contra o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, denunciou o aparelhamento que Bolsonaro tenta fazer na Polícia Federal.

Segundo o delegado, o atual governo tirou da corporação a autonomia que teria sido conquistada depois de 2003. “Ele gerou um precedente perigosíssimo”, denunciou o policial. Saraiva foi removido da Superintendência da PF no Amazonas no ano passado.

Ele comandou a maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil e foi retirado do cargo um dia após apresentar ao STF uma notícia-crime contra Ricardo Salles. Saraiva acusava Salles de dificultar as investigações. O ministro chegou a visitar as empresas envolvidas no contrabando e tirou fotos com os donos das empresas.

O delegado federal afirmou que entrou na PF em 2003 e que nunca tinha recebido uma ligação telefônica “de político ou de superior para fazer ou deixar de fazer alguma coisa”. Saraiva disse que ele e os colegas ficaram “mal-acostumados” e que acreditavam que a corporação não “voltaria nunca a ser a polícia da ditadura militar.”

Mobilização

No fim de semana os policiais federais promoveram protestos em todo o país contra a política salarial de Bolsonaro para os servidores públicos. Segundo o texto, divulgado depois que Bolsonaro confirmou, em entrevista à Rádio Metrópole, de Cuiabá (MT), o reajuste de 5% aos servidores, “os policiais federais não receberão esse duro golpe calados”.

“É de se estranhar a possibilidade de cancelamento da reestruturação por parte do presidente da República. Ele próprio divulgou, de forma exaustiva, o compromisso com a reestruturação em função da importância, complexidade e responsabilidade do trabalho desempenhado pelas forças de segurança pública da União”, diz a nota, assinada por várias entidades dos policiais.

“O governo se tornou o principal agente de enfraquecimento das polícias. O presidente, com base em falácias, não apoia o projeto de reestruturação das polícias da União, mesmo com o orçamento de R$ 1,7 bilhões aprovado e reservado para tanto. Não há óbices legais, mas simplesmente falta de vontade política do presidente”, diz a delegada Tania Prado, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo (SINDPF-SP).