A delegada Dominique de Castro Oliveira, que trabalhava na Interpol

A delegada Dominique de Castro Oliveira, que trabalhava na Interpol, foi exonerada por ter dado andamento no processo de prisão internacional do blogueiro Allan dos Santos.

Dominique trabalhava há 16 meses na Interpol Brasil e foi transferida para a Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal.

A seus colegas, a delegada disse que “além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada”.

O Supremo Tribunal Federal (STF) pediu a prisão de Allan dos Santos por sua participação na organização bolsonarista que financiou, produziu e divulgou fake news e ataques à democracia.

Allan é fundador do site Terça Livre, onde as fake news eram divulgadas.

Como Allan está escondido nos Estados Unidos, foi necessário um pedido de extradição. A Interpol também foi acionada para a prisão internacional.

A delegada Dominique Oliveira era a responsável na Interpol pelo pedido de prisão do blogueiro. Ela revisou os documentos, produziu a minuta e pediu a inclusão de Allan dos Santos na lista de difusão vermelha do órgão. Até agora a Interpol ainda não incluiu o nome de Allan dos Santos na lista de procurados internacionalmente.

Depois de ter dado encaminhamento à prisão, foi informada que foi retirada da Interpol.

Dominique é a segunda pessoa que é demitida ou transferida por ter encaminhado as questões da prisão de Allan dos Santos.

A diretora de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, Silvia Amélia Fonseca de Oliveira, foi demitida logo depois de ter caminhado com o pedido de extradição de Allan.

Allan dos Santos é bastante próximo da família de Jair Bolsonaro.

Mensagens obtidas pela PF mostram que o deputado federal Eduardo Bolsonaro pagou o aluguel de uma mansão para Allan dos Santos em Brasília e o ajudou a fugir para os Estados Unidos por conta das investigações.

Leia a íntegra da carta da delegada:

Acabo de ser comunicada de que a direção determinou minha saída da INTERPOL e apresentação na SR/DF. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu.

Naturalmente, o sentimento que me invade neste momento não é o melhor. Além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada, inclusive por não ter nenhuma função de confiança na INTERPOL, nem mesmo a substituição da chefia. Porém, ao comentar minha “expulsão” da INTERPOL com um colega muito admirado, ele me devolveu a seguinte pergunta: “O que você fez de certo?”

Nos 16 meses em que trabalhei na INTERPOL fui a delegada que mais produziu, sendo que em alguns meses produzi mais que todos os demais delegados, juntos.

No recorde de prisões de foragidos internacionais que batemos esse ano, 9 de cada 10 representações foram elaboradas por mim.

Pela minha atuação no Projeto I-CAN (International Cooperation Against ‘Ndrangheta) recebi elogios do Ministério da Justiça italiano e da Secretaria-Geral da INTERPOL, em Lyon.

Mesmo com a trágica morte de meu companheiro Victor Spinelli, em maio passado, não peguei um único dia de licença médica e apenas 15 dias após sua morte trabalhei duro, entre lágrimas, para prender o número 01 dos foragidos internacionais da ‘Ndrangheta no mundo.

Isso sem falar das relações pessoais e institucionais sólidas que criei: com os adidos estrangeiros, com o STF e PGR, com as representações regionais e com os analistas do “salão”. Nunca uma pergunta ficou sem resposta ou uma demanda deixou de ser atendida por mim.

Eu tenho uma história de mais de 18 anos de atuação na Polícia Federal como Delegada de Polícia Federal, a grande maior parte na atividade-fim, como investigadora, chefe de equipe, coordenadora de operações e, principalmente, líder. Coisas que só podem ser valorizadas e respeitadas por quem sabe discernir e já fez o que é certo.