De 8 milhões que perderam emprego na pandemia, 71% eram negros
Costumamos dizer que a pandemia acentuou a crueldade de mazelas já existentes no Brasil. Às vésperas da celebração do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, a máxima é confirmada por dados sobre o mercado de trabalho da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre as 8 milhões de pessoas que perderam o emprego entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, 6,3 milhões eram negros e negras, o equivalente a 71% do total, segundo análise dos dados da Pnad Contínua pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que divulgou esta semana um Boletim Especial para o Dia Nacional da Consciência Negra.
Os números analisados indicam ainda que é uma desigualdade que permeia todas as dimensões do mercado de trabalho. Os homens e mulheres negras são os mais prejudicados no mercado formal e informal e têm média de renda inferior.
Entre o último trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020, 1,4 milhão de homens negros assalariados com carteira assinada perderam a ocupação, contra 562 mil homens não negros. Um total de 887 mil mulheres negras perderam vagas formais, contra 643 mil não negras.
Entre empregados do setor privado sem carteira assinada, a situação se repete. Enquanto 1,5 milhão de negros ficaram sem trabalho, os brancos somam 614 mil. Já as mulheres negras que perderam ocupações informais somaram 620 mil, contra 486 mil brancas que perderam vagas sem carteira.
Para os homens negros, a taxa de desocupação passou de 11,8% para 14%, do primeiro para o segundo trimestre de 2020 e para os não negros, de 8,5% para 9,5%. Para as mulheres negras, a taxa subiu de 17,3% para 18,2%, no mesmo período. Ou seja, além de atingir mais a população negra, o desemprego afetou mais as mulheres negras.
Já no caso da renda, o rendimento médio real de um homem branco no segundo trimestre de 2020 era de R$ 3.484, enquanto o das mulheres brancas ficava em R$ 2.660. No mesmo período, o rendimento médio real do homem negro era R$ 1.950, e da mulher negra, R$ 1.573.
“A desigualdade no mercado de trabalho entre negros e não negros é uma coisa histórica, ainda que tenha tido alguma melhora em razão da luta dos movimentos negros e de políticas públicas de governos anteriores. O que os dados da pesquisa da Pnad analisados pelo Dieese estão revelando é exatamente isso”, comentou José Silvestre Prado, coordenador de relações sindicais da entidade.