De 200 palestinos mortos em Gaza, 1/3 é de mulheres e crianças
Com os bombardeios de domingo à noite já são 200 os palestinos mortos pelos bombardeios israelenses em uma semana, na grande maioria, civis, sendo que um terço é de crianças e mulheres. O total de feridos ultrapassa os 1.300.
A Anistia Internacional chamou os ataques contra campos de refugiados, casas e hospitais, de “crimes de guerra”, e pediu uma investigação do Tribunal Penal Internacional.
Equipes de resgate palestinas procuraram freneticamente no domingo por sobreviventes sob “enormes pilhas de escombros fumegantes” e para retirar corpos dos prédios derrubados, “enquanto familiares choravam de horror e tristeza”, registrou a Al Jazeera, cuja sede em Gaza foi posta abaixo por um míssil israelense na véspera. Num dos ataques, foi morto o diretor do maior hospital de Gaza, Ayman Abu al Ouf.
O mais intenso bombardeio desde então foi realizado pelos israelenses em paralelo à reunião do Conselho de Segurança da ONU de domingo, em que os EUA novamente bloquearam uma resolução por um cessar-fogo apoiada por 14 dos 15 países integrantes e redigida conjuntamente pela China, Noruega e Tunísia.
No sábado, o assassinato de oito crianças e duas mães por um ataque israelense ao campo de refugiados de Shati voltara a indignar o mundo. “Eles estão atingindo nossas crianças sem aviso prévio”, disse Mohammed Al Hadidi, que perdeu a maior parte de sua família no ataque e cujo bebê de cinco meses também ficou ferido na explosão.
Em seu pronunciamento ao Conselho de Segurança da ONU, o ministro das Relações Exteriores palestino, Ryiad Al Maliki, denunciara: “Não há palavras que possam descrever os horrores que nosso povo está sofrendo”.
“Israel não é apenas uma potência ocupante. Israel é uma potência nuclear. Tem um arsenal militar, o Domo de Ferro [sistema antimísseis], abrigos, enquanto nosso povo em Gaza está sitiado, preso, sem nenhuma promessa de ir para um local seguro”, apontou.
Ele advertiu que o consenso internacional de décadas para o conflito vem sendo destruído, e que o governo de Israel prefere o apartheid a um acordo pacífico. Os foguetões disparados pelo Hamas causaram 10 mortes do lado israelense.
“Gritos sob os escombros”
“Ainda podemos ouvir as pessoas gritando sob os escombros”, disse Medhat Hamdan, um integrante da defesa civil que veio de Khan Younis para a Cidade de Gaza e trabalhou sem parar por 11 horas para salvar vidas.
Ele explicou à Al Jazeera que já “não se choca” com o que vê, “mas não posso deixar de ficar emocionado quando alcançamos os corpos das crianças e os removemos”, disse Hamdan à Al Jazeera, acrescentando que tirou três crianças mortas dos escombros.
Um morador, Ramzi Eshkuntana, disse à emissora do Qatar que todo o bairro, “de Tel Shubeir ao cruzamento de Palmera, foi bombardeado”. 40 ataques aéreos em apenas alguns minutos, acrescentou.
“Corremos para fora de casa e vimos a destruição da maioria das edificações ao nosso redor, incluindo a casa do meu irmão. Sua esposa e quatro filhos foram mortos enquanto dormiam ”, disse Eshkuntana. “A esposa do meu irmão foi puxada com os braços em volta dos filhos”, acrescentou.
Bombas de F-35
“Não eram mísseis disparados por F-16; eram bombas de aviões de guerra F-35”, assinalou, apontando para o mais recente reforço propiciado por Washington à máquina de genocídio israelense, o mais moderno avião de guerra norte-americano.
“A mulher, junto com seus filhos – dois meninos e duas meninas – estão mortos. Essas crianças estavam disparando foguetes? Não é suficiente que tenha sido negada a eles a alegria do Eid [feriado islâmico]? São crianças! O mais velho estava na quarta série”.
Outro membro do resgate narrou que ouviram “os gritos de uma jovem” e o toque de um celular. “Seguimos o som e por horas, usando uma escavadeira e outros dispositivos de luz, chegamos até a garota, que está viva”.
Outro residente, Khalil al Kolak, disse que as casas de sua família foram destruídas.
“Acordamos no meio da noite com o som do bombardeio”, disse ele. “Apenas dois da nossa família estão vivos”, continuou. “Os outros 14 membros, incluindo mulheres, crianças e homens, já se foram. Ainda há seis sob os escombros.”
“Nunca aconteceram bombardeios deste calibre”, afirmou Mad Abed Rabbo, que mora na zona oeste da cidade de Gaza e disse sentir “horror, medo”.
Quase 40 mil palestinos abandonaram suas casas, informou o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
A Chefe da Cruz Vermelha Internacional em Gaza, Mirjam Mueller, denunciou o aumento “dramático” da violência: “nossas equipes raramente foram capazes de se mover”. Ela pediu uma desescalada, para que o socorro possa ser prestado às vítimas. “Estou aqui há apenas alguns dias e tem sido de partir o coração ver como a situação está se desenrolando”.
“Nenhum lugar é seguro para crianças em Gaza no momento”, disse a UNICEF ao portal RT, enquanto exortava todas as partes a um cessar-fogo.
Nos muitos atos contrários aos ataques do regime Netanyahu a Gaza, realizados em muitas capitais mundo afora no final de semana, os manifestantes em Madri resumiram o que vem acontecendo: “isso não é uma guerra, é um genocídio”, bradaram. Ao que se acrescia uma grande faixa com os dizeres “vidas muçulmanas importam”.