Na sexta-feira (20/9), quatro milhões de manifestantes em mais de 150 países foram às ruas em defesa do meio ambiente

Mais de 500 jovens de 140 países ocuparam no sábado (21) o espaço habitualmente destinado aos diplomatas da ONU e debateram com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na primeira cúpula da juventude sobre o clima em Nova Iorque. Na sexta-feira, quatro milhões de manifestantes em mais de 150 países foram às ruas em defesa do meio ambiente e contra a devastação promovida pelos monopólios, que ameaça o futuro da Humanidade. Multidões exigiram medidas concretas, com cartazes como “Não há Planeta B”, “Faça a Terra Grande de Novo” e “Ganância mata”.

Guterres instou os jovens do mundo inteiro a “cobrarem da minha geração. A minha geração falhou em grande parte até agora em preservar a justiça no mundo e o planeta”. Na segunda-feira (23) começa a Cúpula do Clima da ONU, que antecede a Assembleia Geral, e visa fazer um balanço sobre o cumprimento do Acordo do Clima de Paris, de 2015.

As recentes e dramáticas cenas das queimadas na Amazônia – assim como de geleiras derretendo na Groenlândia – contribuíram sem dúvida para a amplitude das manifestações, que ocorreram nos cinco continentes. Paris, Londres, Berlim, Bruxelas, Madrid, Estocolmo, Copenhague, Nova Delhi, Bangkok, Tóquio, Sydney, Washington, Cidade do México, São Paulo, Rio de Janeiro, Santiago do Chile, Johanesburgo, Nairobi e muitas outras cidades registraram atos. Também nas ilhas do Pacífico. Em Nova Iorque, uma multidão foi às ruas bradando “salvem nosso planeta”.

O recorde de queimadas na Amazônia, turbinado pela destemperada perseguição ao diretor da instituição científica de renome internacional que monitora a região (INPE) e por desatinadas acusações de que ‘as ONGs’ é que estariam incendiando a floresta, enquanto grileiros promoviam o ‘Dia do Fogo’, transformaram o presidente Jair Bolsonaro em uma espécie de vilão internacionalmente reconhecido do meio ambiente, em companhia de seu ídolo, o presidente norte-americano Donald Trump, que retirou os EUA do Acordo de Paris e é entusiasta do fracking, da desregulamentação ambiental e contra quaisquer entraves à sanha de lucros – e poluição ‘colateral’ – dos monopólios. Na véspera da manifestação internacional, Trump usou seus poderes para bloquear os padrões mais rigorosos de emissão de veículos da Califórnia.

Expressão desse dano à reputação do Brasil na questão ambiental, o discurso do Brasil na Cúpula do Clima foi vetado. O que se deve, além da intensificação do desmatamento e queimadas desde a posse de Bolsonaro, a que o Brasil não apresentou nenhum plano para manter o compromisso com o clima, conforme o representante da secretaria-geral da ONU, Luis Alfonso de Alba. Triste condição em que estará acompanhado, além dos EUA, por governos como o saudita.

63 países irão discursar no evento reafirmando seu empenho com o Acordo de Paris, a redução de emissões e a limitação do aumento da temperatura global a 1,5ºC. Como registrou o jornal inglês progressista Morning Star, o país que mais avançou no cumprimento das metas foi a China.

A estudante sueca Greta Thunberg virou a musa da luta em defesa do meio ambiente e foi ovacionada em Nova Iorque e ouvida na ONU, por seu exemplo com as Sextas-feiras para o Futuro, quando deixava de ir à escola para cobrar diante do parlamento em Estocolmo medidas concretas contra a catástrofe ambiental.

“É uma grande vitória”, disse Thunberg em entrevista à Associated Press.”Eu nunca teria previsto ou acreditado que isso iria acontecer, e tão rapidamente, em apenas 15 meses”. As manifestações variaram desde um pequeno ato em Seul com 20 ativistas, até aos maiores atos na Austrália desde os protestos de 2003 contra a guerra no Iraque. Os 1,1 milhão de alunos de Nova Iorque foram liberados das aulas para poderem participar.

Na denúncia do desastre em curso e expressão de suas preocupações, a juventude usou e abusou da criatividade. Manifestantes em Varsóvia, capital da Polônia, realizaram uma performance de pessoas se afogando em um mar de lixo plástico. Em Berlim, três ativistas se postaram sobre blocos de gelo com laços de corda no pescoço, como um enforcamento iminente, simbolizando a ameaça trazida pelo derretimento das calotas polares. Na Nigéria, manifestantes denunciaram a desova de lixo em containers nos países pobres, ‘exportado’ pelos países ricos. Na Tailândia, uma adolescente, espirituosamente, exibia um cartaz com os dizeres “o planeta está ficando mais quente que o meu namorado imaginário”.

Em Viena, a velha conclamação de “faça amor, não faça a guerra” foi atualizada para “faça amor, não CO2 “. Em São Paulo, um manifestante chegou quase à perfeição, com um cartaz com a foto de Bolsonaro junto com Trump, e a legenda “vamos abolir os tolos fósseis”.

Na cúpula jovem, os mais de 500 representantes atenderam à exortação de Greta pela “união” e para serem “imparáveis”. O argentino Bruno Rodríguez, de 19 anos, conclamou a “não esperar passivamente” e assumir a frente das mobilizações. “Há muito tempo pedimos um lugar à mesa dos que tomam as decisões”, disse aos jovens líderes Jayathma Wickramanayake, de Sri Lanka, a enviada para a cúpula da juventude com Guterres. “Hoje, são os líderes que estão pedindo para negociar com vocês”, completou.

O queniano Wanjuhi Njoroge lembrou que os países da África são os que emitem menos gases de efeito estufa, mas os que mais sofrem com as consequências do aquecimento global. Ele pediu acima de tudo apoio financeiro “para trabalhar na mitigação e adaptação às mudanças clim áticas”. Kamal Karishma Kumar, de Fiji, ressaltou que combater as mudanças climáticas “é uma questão de sobrevivência” para as ilhas do Pacífico. “Não queremos que as gerações futuras afundem com nossas ilhas”, completou.

Sentado entre os jovens, Guterres lhes pediu que continuem a lutar e exigir que os governos prestem contas sobre seus planos para o clima. “Ainda estamos perdendo a corrida frente ao aquecimento global, ainda existem subsídios para as energias fósseis e centrais de carvão (…). Mas há uma mudança na dinâmica devido, em grande parte, a sua iniciativa e à coragem com que vocês começaram esse movimento”, afirmou. Na sexta-feira (27), os organizadores da mobilização em defesa do meio ambiente estão convocando uma “greve global do clima”.