Lideranças chinesas acompanham cúpula virtual-Xi-Biden

Na primeira cúpula entre os presidentes Xi Jinping e Joe Biden, realizada por videoconferência na noite de segunda-feira em Washington, manhã de terça-feira (16) em Pequim, o líder chinês destacou “o respeito mútuo, a coexistência pacífica e a cooperação ganha-ganha” como centrais para a preservação e desenvolvimento das relações China-EUA, mais o consagrado princípio de “Uma Só China”, e as duas partes concordaram com dois consensos básicos: rejeitar uma nova guerra fria e reafirmar a importância das relações China-EUA.

O diálogo se prolongou por três horas e meia, mais do que o originalmente programado, e foi aberta em clima de cordialidade. O que de certa forma contrasta com a tensão que as relações Washington-Pequim assumiram nos últimos anos e inclusive nos primeiros meses do governo Biden. Apesar disso, se encerrou uma declaração conjunta.

De acordo com as imagens divulgadas, os dois líderes se cumprimentaram com um aceno de mãos, com Biden asseverando que a “competição entre os dois países não se deve transformar num conflito, seja de forma intencional ou não”, enquanto Xi, que o saudou como “velho amigo”, exortou China e EUA a melhorarem a “comunicação e a cooperação”.

Xi conclamou as duas partes a respeitarem os sistemas sociais e caminhos de desenvolvimento um do outro, respeitarem os interesses centrais e principais preocupações um do outro e respeitarem o direito ao desenvolvimento um do outro.

“Precisamos tratar uns aos outros como iguais, manter as diferenças sob controle e buscar um terreno comum enquanto preservamos as diferenças”, assinalou Xi.

Xi também sublinhou a coexistência pacífica, dizendo que “nenhum conflito e nenhum confronto é uma linha que ambos os lados devem manter”. Com seus interesses profundamente interligados, China e Estados Unidos têm a ganhar com a cooperação e perder com o confronto, acrescentou.

O mundo é grande o suficiente para os dois países se desenvolverem individual e coletivamente, disse Xi. “A coisa certa a fazer é escolher o benefício mútuo em vez do jogo de soma zero ou a abordagem do tipo eu-ganho-você-perde.”

10 MESES DE IMPASSES

Os dois já haviam conversado por telefone em fevereiro e setembro e nesse período ocorreram sucessivos enfrentamentos, no Mar do Sul da China e quanto a Taiwan, Hong Kong e Xinjiang, a ‘investigação da CIA da origem do coronavírus’, a constituição da aliança bélica Aukus, bem como em questões econômicas e da guerra tecnológica, em particular, nos microchips.

Em março, o tom arrogante dos principais diplomatas norte-americanos no Alaska havia sido rebatido altivamente pelo lado chinês, deixando claro que haviam acabado os dias em que os EUA pretendiam ditar os termos bilaterais.

Mas houve o avanço do recuo dos EUA quanto à extradição da filha do fundador da Huawei, que já está livre e de volta à China. Encontros bilaterais em julho na China e em outubro na Suiça permitiram aparar algumas arestas. Também na cúpula do clima de Glasgow, Washington e Pequim acabaram por fazer uma declaração conjunta em favor da pauta da mudança climática, do controle da emissão de gases poluentes e da transição energética.

A cúpula também ocorre em meio a discussões nos EUA que alçaram a China a ‘grande adversário estratégico’. Ou como recentemente fez o chefe do Pentágono, de que o mundo está indo para uma situação mais complexa, de “três potências”, EUA, China e Rússia.

Quanto a isso, de um jeito bem chinês, Xi comparou a China e os EUA a “dois navios gigantescos que navegam no oceano”.

“É importante que os dois lados mantenham a mão firme no leme, para que os dois navios gigantescos quebrem as ondas e sigam juntos, sem perder direção nem velocidade, ainda menos colidindo um com o outro”, conclamou Xi.

“Não brinquem com fogo”

E, para que não paire dúvida, o presidente Xi também alertou aqueles que andam assanhados com a sucessão de Taiwan, que “quem brinca com fogo acaba se queimando”.

“A reunificação final da China é uma vontade comum de todo o povo chinês. Somos pacientes e estamos prontos para obter sinceramente e com todas as forças a perspectiva de uma reunificação pacífica. No entanto, se as forças separatistas que defendem a independência de Taiwan provocarem e cruzarem mesmo a linha vermelha, teremos de usar medidas decisivas”, afirmou Xi.

Ele também sublinhou que o princípio de “uma só China” e os três comunicados conjuntos sino-americanos são a base política das relações entre Pequim e Washington, e que todos os governos anteriores dos EUA tinham assumido compromissos claros a esse respeito.

O verdadeiro status quo da questão de Taiwan e o que está no cerne de uma só China, Xi destacou, e significa o seguinte: há apenas uma China no mundo e Taiwan é parte da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa a China.

Xi também instou Biden a exercer sua liderança política e direcione a política dos EUA para a China “de volta ao caminho da razão e do pragmatismo”.

Como as duas maiores economias do mundo e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e os EUA precisam aumentar a comunicação e a cooperação, cada um conduzindo bem seus assuntos internos e, ao mesmo tempo, arcando com sua parcela de responsabilidades internacionais e trabalhando juntos para avançar a nobre causa da paz e do desenvolvimento mundial, disse Xi.

Este é o desejo comum das pessoas dos dois países e de todo o mundo, e a missão conjunta dos líderes chineses e americanos, disse ele.

Xi enfatizou que uma relação sólida e estável entre a China e os Estados Unidos é necessária para o avanço do desenvolvimento respectivo dos dois países e para salvaguardar um ambiente internacional pacífico e estável, incluindo encontrar respostas eficazes aos desafios globais, como as mudanças climáticas e a pandemia COVID-19.

A nota da Casa Branca

Como era de prever, a nota de Washington sobre a cúpula foi muito mais sucinta do que o documento de Pequim de quase 4.000 palavras.

Segundo o comunicado da Casa Branca, Biden expressou as suas “preocupações sobre as práticas (da China) em Xinjiang, Tibete e Hong Kong, e os Direitos Humanos, no geral”, além de ter classificado como “injustas” as práticas comerciais e econômicas da China.

Também que se opôs “firmemente aos esforços unilaterais para mudar o status quo ou minar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan”. Na interpretação da Xinhua, “se opôs à independência de Taiwan” e se pronunciou pela “paz no Estreito”.

A curta declaração acrescentava que Biden reconheceu a importância de gerenciar riscos estratégicos, bem como “a necessidade de salvaguardas de bom senso para garantir que a concorrência não se transforme em conflito”.