Restos de ossos doados pelo açougue Atacadão da Carne, de Cuiabá

Na esperança de conseguir ossos doados por um açougue, dezenas de pessoas realizaram uma fila no bairro CPA 2, na cidade de Cuiabá, no Mato Grosso.

Entre os que fizeram fila para tentar receber uma porção do donativo, estavam trabalhadores que perderam a sua renda pela pandemia, desempregados, donas de casa, aposentados e aqueles que dependem exclusivamente de benefícios sociais.

O episódio ganhou repercussão nacional neste fim de semana após as imagens realizadas pela TV Centro América, afiliada da Rede Globo, divulgadas no último sábado (17). Os registros expressam a dimensão e gravidade da vulnerabilidade socioeconômica que aflige milhões de brasileiros. Entre os relatos colhidos pela TV, o sentimento de desespero e desesperança se fazem recorrentes.

A doação ocorre após processo de desossa do boi, para retirada da carne comercializada no estabelecimento.

Aqueles que buscam as doações vão em busca de pequenos resquícios de carne que eventualmente possam ter sobrado nos ossos do animal após a máquina de desossa retirar o que irá alimentar aqueles que podem pagar.

A fila dos que esperavam as doações chegou a dar a volta no quarteirão.

A reportagem veiculada destaca ainda que diversas pessoas presentes na fila para receber os ossos moram em bairros afastados do estabelecimento, chegando a percorrer até 35 km para esperar na fila de donativos do açougue.

A motivação que os faz percorrer longas distâncias e esperar por horas sentados ao chão é dita por todos os entrevistados: necessidade.

Quem conseguiu receber os ossos, embalados em pequenas sacolas de plástico, expressou em sorrisos captados pelas filmagens, uma gratidão, um “obrigado” pela chance de sobreviver mais um dia. Ao receberem a doação, alguns expressavam em voz alta: “eba!”, “aeeee”, “glória a Deus”.

As falas de alívio marcaram a celebração pelo alimento doado após não ter mais condições de ser comercializado e que para alguns será o único sustento por todo o fim de semana. Os ossos doados são comercializados em estabelecimentos da região por cerca de R$ 10 por cada quilograma.

Diante da grande procura, foi necessário organizar um sistema de cadastro para que fosse realizada a doação, que passou a ser feita uma vez por semana para um contingente atual de 420 pessoas cadastradas na Central.