Presidente cubano Miguel Díaz-Canel e o diretor do Centro de Neurociências, Mitchell Valdés-Sosa

Ampliar o investimento no estudo das neurociências e neurotecnologias, a fim de garantir uma melhor qualidade de vida com o combate aos efeitos do envelhecimento, com destaque para o tratamento de distúrbios geriátricos que podem resultar em demências e outras perdas adquiridas com a idade, foi a prioridade da reunião recente entre o presidente Miguel Díaz-Canel e acadêmicos cubanos.

Liderado pela vice-primeira-ministra Inés María Chapman Waugh, o intercâmbio realizado no Centro de Neurociências de Cuba (Cneuro) contou com a presença do seu diretor, Mitchell Valdés-Sosa, e da ministra da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Elba Rosa Pérez Montoya.

Na oportunidade foi destacado o compromisso histórico do comandante Fidel Castro em fazer da Ilha um país de homens e mulheres de ciência, tornando trincheiras como o Cneuro, em Havana, em importantes espaços de produção de conectores para circuitos respiratórios, essenciais o enfrentamento ao coronavírus, diante do déficit de oxigênio médico.

A reunião apontou que é fundamental gerar produtos e serviços de neurotecnologias com alto valor agregado que contribuam para a exportação e substituição de importações, tornando o país independente neste setor estratégico. Além disso, frisou que é necessário contribuir para atenuar os efeitos do envelhecimento da população através da introdução de neurotecnologias para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de demências, doenças neurodegenerativas e crônicas não-transmissíveis, bem como disfunções sensoriais associadas ao envelhecimento; contribuir para o desenvolvimento do sistema educacional cubano através da introdução de neurotecnologias para a detecção, diagnóstico precoce e reabilitação de problemas no neurodesenvolvimento e aprendizagem infantil, bem como a seleção e estimulação de talentos escolares. E, finalmente, promover o desenvolvimento da inteligência artificial e outros elementos da Indústria 4.0 e atuar como uma força motriz para o desenvolvimento das ciências básicas.

Valorizando os avanços obtidos, Díaz-Canel, assinalou que “e há muito para trabalhar e organizar em tudo o que está sendo feito para realizar todo o potencial que o país tem neste campo”.

O doutor em Ciências Mitchell Joseph Valdés Sosa, membro da Academia das Ciências de Cuba e diretor do Centro de Neurociências, avaliou que há “uma explosão mundial de pesquisa, com o desenvolvimento acelerado das neurociências cognitivas, sociais e afetivas, neuroinformática, neurofísica, mapeamento cerebral, neurogenética, neurofarmacologia, e muitas outras áreas”. “As neurotecnologias estão começando a se desenvolver hoje como a biotecnologia nos anos 80”, disse o cientista, uma das personalidades motrizes ao lado do seu irmão Pedro Antonio. “Na última década houve um aumento de mais de 200% no número de patentes nestas disciplinas, como resultado do aumento dos investimentos e da aceleração da inovação”, acrescentou Valdés Sosa.

Aprovado em 2020 em Cuba, o Programa Nacional de Neurociências e Neurotecnologias aproveita as experiências positivas do Programa Nacional para a Criação de uma Plataforma Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em Neurotecnologia e do Programa Cubano de Disfunções Cerebral e Mapeamento Cerebral, de 2019.

Composto de 27 projetos de pesquisa e desenvolvimento mais inovação, o programa envolve 24 instituições da BioCubaFarma, o ministério da Saúde Pública, o ministério da Educação Superior e o ministério da Educação, além de uma dúzia de centros, grupos nacionais e redes.

O dr. Valdés Sosa abordou sobre alguns dos produtos neurotecnológicos cubanos, como Audix, Infantix, Estereoflex, Neuroplanus e Neuroepo; e comentou, entre outros assuntos, da colaboração internacional obtida nestas ciências, como o Projeto do Cérebro Cuba-China-Canadá.

Argumentando por resultados e necessidades práticas a serem atendidas pelas neurociências e neurotecnologias em Cuba, o doutor em Ciências Francisco Calixto Machado Curbelo, especialista em segundo grau no Instituto de Neurologia e Neurocirurgia e membro da Academia das Ciências, destacou a capacidade do país de incorporar neuromonitores nas enfermarias de terapia intensiva. “Nos cuidados críticos e agudos, o monitoramento neurológico do paciente é vital”, sublinhou.

De acordo com Curbelo, em unidades de tratamento intensivo em todo o mundo, os médicos estão “cegos” quanto ao que está acontecendo no cérebro, e este tipo de equipamento deveria fazer parte dos painéis de monitoramento cubanos nestas enfermarias.

A doutora em Ciências Silvia Navarro Quintero, diretora-geral do Instituto Central das Ciências Pedagógicas de Cuba (ICCP), defendeu o potencial que temos para “elevar a qualidade da educação a partir da ciência com o uso das neurociências”, e elogiou as tecnologias para identificar os riscos do neurodesenvolvimento na aprendizagem e no talento de meninas e meninos. Essas tecnologias, destacou, “reforçam os instrumentos para diagnosticar déficits de aprendizagem e perfis neurocognitivos”.

O doutor em Ciências Nelson Gómez Viera, membro titular da Academia das Ciências de Cuba e chefe do Serviço de Neurologia do hospital clínico-cirúrgico Hermanos Ameijeiras, resgatou os resultados concretos que vêm sendo obtidos no tratamento de doenças neurodegenerativas em uma população que envelhece a cada dia e onde a demência, entre outros problemas, é mais frequente.

O doutor em Ciências Luis Velázquez Pérez, presidente da Academia das Ciências de Cuba, sublinhou a relevância do progressivo desenvolvimento das neurociências no país. Entretanto, destacou, esta força deve ser mais explorada, e seus resultados devem ser acelerados, com mais treinamento de doutorado e recrutamento de jovens.