Cuba: Cúpula de Biden é “tão irreal quanto a democracia que defende”
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) de Cuba afirmou que a Cúpula virtual realizada na última quinta e sexta-feira (9 e 10), “com discursos pré-gravados dos convidados e uma agenda totalmente manipulada, foi um exercício demagógico, com benefício zero para a comunidade internacional e sem qualquer proposta para resolver os problemas mais prementes do mundo que compartilhamos”. Na verdade, sublinhou, foi “tão irreal quanto a democracia que defende”.
“Como um artifício político, serviu apenas para mostrar o crescente isolamento, alienação e perda de influência da nação mais poderosa do planeta. Em um sentido prático, o único resultado aparente é o compromisso de 400 milhões de dólares para a subversão política dos Estados soberanos em flagrante violação do direito internacional”, denunciou o comunicado, apontando que “algumas horas se passaram desde que o evento terminou e poucos são capazes de explicar ou lembrar o que aconteceu ali”.
Para o MRE cubano, “o governo dos EUA perdeu a oportunidade de convocar uma reunião inclusiva promovendo a cooperação e a busca de soluções para qualquer dos problemas que mais urgente e gravemente impactam a vida da maioria da população mundial”. “Não houve vontade de unir forças para combater a fome, a desnutrição, a pobreza e as desigualdades crescentes, as condições de vida insalubres, os problemas migratórios, o tráfico de drogas, o crime organizado e transfronteiriço, a corrida armamentista ou a mudança climática. Nem mesmo concebeu a ideia de convocar líderes mundiais para discutir e articular uma resposta concertada à pandemia de HIV/AIDS e outras doenças transmissíveis. Mas os Estados Unidos não podem oferecer soluções enquanto suas políticas estiverem no centro de problemas tão sérios”, assinalou o documento.
Cuba denunciou que a reunião irrealista sob o tema “democracia” foi convocada com grande demagogia, “assumida como sendo a defesa do capitalismo e aplicável apenas aos governos que não desafiam a autoridade hegemônica dos Estados Unidos”. Tal formulação, condenou, “deixa claro o real propósito e interesse em desviar a atenção mundial dos graves problemas que a sociedade e o sistema político dos EUA enfrentam atualmente”. “Um país onde o dinheiro supera a vontade popular de seus cidadãos, onde a venda livre e o uso irresponsável de armas letais são promovidos, onde a intervenção e interferência nos assuntos internos dos Estados soberanos é encorajada, onde o racismo é sistêmico e a guerra é o negócio mais lucrativo, não tem nada a ensinar à comunidade internacional”, sublinhou.
“Como Cuba tem advertido, o governo dos Estados Unidos está engajado em uma perigosa campanha que visa criar uma cisma internacional, dividindo o planeta e punindo os países que defendem projetos progressistas ou não aceitam os modelos impostos pelos Estados Unidos. Procurar impor uma única receita aceitável para um sistema político a todos os países é, em si mesmo, profundamente antidemocrático. É contrário à Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, assinada em Havana por todos os países de nossa região, que estabelece o compromisso de respeitar plenamente o direito inalienável de cada Estado de escolher seu sistema político, econômico, social e cultural, como condição essencial para assegurar a convivência pacífica entre as nações”, acrescentou o documento.
Conforme esclareceram os cubanos, “esta visão distorcida é o que os leva a agir à margem das Nações Unidas, onde sofrem um isolamento crescente devido aos repetidos desafios aos princípios da coexistência civilizada, do respeito pelo multilateralismo e da autodeterminação dos povos e igualdade soberana entre seus Estados-membros, conceitos que são inaceitáveis para os governantes dos EUA hoje em dia”.
“Mais de 80 países, incluindo Cuba, não foram convidados, e isto não nos surpreende, porque somos uma nação que há quase 63 anos rejeita com sucesso a tentativa dos EUA de subjugá-la e tem efetivamente defendido seu direito inalienável à autodeterminação. Em uma cúpula destinada a promover o capitalismo e o papel central e dominante dos Estados Unidos em sua promoção, não se deve esperar a presença de Cuba socialista”, salientou.
A declaração ressaltou que “ao cooperar para encontrar soluções para os graves problemas mundiais, a comunidade internacional pode sempre contar com nosso apoio, com a contribuição construtiva, ativa e solidária dos cubanos na
busca de consenso, para unir vontades, para enriquecer e se beneficiar da diversidade e para privilegiar o que nos une em vez do que nos separa. A trajetória internacional dos últimos 60 anos apoia esta afirmação”.
E concluiu: “o mundo exige paz, desenvolvimento, justiça, solidariedade, cooperação e confiança mútua. Não se beneficia de divisão, seletividade e imposições unilaterais”.