Voluntária recebe a vacina produzida em Cuba

A vacina Soberana 2, que é desenvolvida em Cuba, entrará na última fase de testes, a terceira, já durante a próxima semana. A informação foi fornecida pelo pesquisador italiano, Fabrizio Chiodo, que trabalha no Instituto Finlay onde o projeto é desenvolvido.

Chiodo esclarece que é com esta fase que se poderá atestar o grau de eficácia e segurança, ou seja, inexistência de efeitos adversos graves e, assim ela passará a ser administrada em massa. O pesquisador expressou confiança nos resultados com base nos testes das fases preliminares e na vasta experiência cubana na produção de vacina. “Cuba tem uma longa história na divulgação científica, experimentação e desenvolvimento de vacinas”, frisou.

A BioCubaFarma, a estatal cubana que reúne as empresas do setor de biotecnologia e fármacos, anunciou que a partir do segundo semestre estará pronta para produzir 100 milhões de doses da Soberana 02, a primeira vacina latino-americana contra a Covid, que já está na última fase de testes clínicos.

Em Cuba, quatro vacinas estão em desenvolvimento em estágio avançado, e o país tem uma das menores taxas de letalidade do mundo, com 300 mortes no total até segunda-feira (22) e 45 mil casos.

“Trata-se de compartilhar com o mundo o que somos, a resposta que Cuba pode dar ao problema da pandemia”, assinalou Rolando Pérez Rodríguez , doutor em Ciências Biológicas e Diretor de Ciência e Inovação da BioCubaFarma.

“Vamos poder vacinar toda a população até o final do ano mas também teremos capacidade de produção para oferecê-lo a outros países que o demandarem”, garantiu ao jornal argentino Página 12.

No final de março, outra das vacinas cubanas, a Abdala, desenvolvida pelo Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), entra na terceira fase de testes clínicos .

Como registrou Rodríguez, um dos pontos fortes da indústria da biotecnologia cubana “é justamente o desenvolvimento de vacinas”. Ao que se somou a percepção, a partir do momento em que potenciais acordos começaram a ser feitos no resto do mundo, de que as vacinas seriam a “preços altíssimos”.

Apesar das dificuldades decorrentes do bloqueio – agravadas no governo Trump – Cuba conseguiu avançar no desenvolvimento de suas vacinas. “A ideia da vacina é poder mostrar que assim como Cuba precisa do resto do mundo, também pode contribuir muito”, acrescentou o cientista.

São quatro as vacinas cubanas em andamento. Duas estão a cargo do Instituto de Vacinas Finlay (IFV): a Soberana 02 , com 150 mil doses prontas para o início da terceira fase de testes clínicos, e a Soberana 01, ainda na primeira fase de testes em humanos. As outras duas estão a cargo do CIGB: Mambisa , uma novidade pelas características de entrega nasal, e Abdala.

As quatro vacinas candidatas usam a proteína RBD como antígeno, que liga o corpo viral à célula humana. Tanto para Abdala quanto para a Soberana 02, os especialistas prevêem a aplicação de três doses, com esquema de imunização de 0-28-56 dias, embora para a primeira ainda avaliem esquema mais curto, de 0-14-28 dias.

Rodríguez salientou que a Soberana 02 “não mostrou nenhum efeito adverso até agora”. É uma vacina de subunidade conjugada, baseada na proteína RBD, que é um domínio -subunidade- da proteína S, do termo “spike” (Spike, espigão) em inglês. O RBD, ao se ligar ao receptor, permite que o vírus entre na célula humana. A vacina inibe essa ligação, gerando anticorpos neutralizantes.

A escolha por esse tipo de vacina – baseada em proteínas recombinantes – se deu devido à experiência cubana com a mesma tecnologia em pesquisas anteriores, contra outros vírus, e à capacidade não só para investigar, mas para levar a produção à escala industrial.

“Para o mês de junho estarão em mãos os resultados, para o registro e uso massivo da vacina, e a partir do segundo semestre poderemos imunizar toda a população, e também fornecer doses para países que precisam. A capacidade produtiva que temos para esse tipo de vacina é muito grande, que usa apenas um quinto de um anticorpo”. Essa fase do ensaio clínico será estendida ao Irã, em convênio com o Instituto Pasteur de lá. O Irã é um dos países do Oriente Médio mais afetados pelo coronavírus.

Fundada em 2012, a estatal BioCubaFarma reúne 32 empresas de biotecnologia e indústria farmacêutica cubana, com 20 mil trabalhadores. Ela exporta mais de 300 produtos para 50 países.