Crise no Ipen pode deixar pacientes com câncer sem medicamento
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) enviou aos serviços de medicina nuclear brasileiros, na última terça-feira (14), um comunicado avisando sobre a suspensão de sua produção de radiofármacos e radioisótopos a partir da próxima segunda-feira (20). Segundo o instituto, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a interrupção é devido à falta de verba para comprar o material radioativo de fornecedores brasileiros e estrangeiros, como produtores da África do Sul, Holanda e Rússia.
A suspensão da produção vai afetar diretamente o tratamento de câncer no Brasil e o diagnóstico de doenças. Os materiais são utilizados no tratamento de câncer e em exames de imagem, como raio x, tomografia, ressonância magnética, cintilografia e mamografia, essenciais para o diagnóstico de outras doenças além das neoplasias e indicação do tratamento mais adequado.
O Ipen fabrica 25 diferentes radiofármacos, ou 85% do fornecimento nacional. Para manter a produção, o órgão aguarda a aprovação pelo Congresso Nacional de um Projeto de Lei que adicionaria R$ 34,6 milhões ao seu orçamento. Outros R$ 55,1 milhões estão sendo buscados pelo MCTI para completar os R$ 89,7 milhões que o instituto precisa para produzir os radiofármacos até dezembro deste ano.
Na carta enviada pelo Ipen aos serviços de medicina nuclear, o instituto alega estar sofrendo com a “grande redução dos recursos atribuídos pela Lei Orçamentária Anual (LOA) à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), da qual faz parte e com a “forte e desfavorável variação cambial, em 2021”.
“O fato de recursos orçamentários extras ainda não estarem disponíveis no Instituto, até o momento, implica na inexistência de lastro em crédito orçamentário. Tão logo tenhamos a informação quanto ao recebimento dos recursos orçamentários extras e, consequentemente, à normalização nos fornecimentos, entraremos em contato imediatamente”, informa o Ipen na carta aos estabelecimentos que utilizam a medicina nuclear.
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), George Coura Filho, avalia que entre 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas serão prejudicadas com a falta de distribuição dos radiofármacos do Ipen, e não apenas os doentes de câncer. Ele recebeu na terça-feira a carta do Ipen, e junto com outras entidades vai tentar junto aos ministérios relacionados uma saída para o problema. Os remédios do Ipen representam cerca de 10% dos medicamentos usados para tratar a doença.
“O Ipen é produtor quase exclusivo no Brasil dos isótopos radioativos que são utilizados na medicina nuclear. Por exemplo, no diagnóstico de cintilografia óssea para procurar metástase óssea em paciente com câncer, na cintilografia miocárdica para avaliar pacientes com doença coronariana, infartados”, explicou.