Crise agravada por sanções da Otan obrigam premiê inglês a renunciar
É claramente agora a vontade do Partido Conservador no Parlamento que deve haver um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro”, afirmou hoje (7) Boris Johnson ao anunciar sua renúncia ao cargo de premiê inglês.
A decisão ocorre diante de uma crise de espiral inflacionária que já levou a greves e bloqueios de estradas por todo o país, com exigências de redução no preço dos combustíveis e um basta à carestia. Alta dos combustíveis e carestia generalizada foram agravadas com a adesão do governo britânico às sanções dos EUA/Otan contra Moscou, com boicote ao fornecimento de gás e petróleo russos.
O novo líder do Partido Conservador deve ser nomeado até outubro e Johnson pediu para seguir no posto até a nova nomeação.
Após uma conversa com Graham Brady, diretor do Comitê dos Membros Privados do Partido Conservador, Johnson concordou com a renúncia
A informação teve várias repercussões. Nadhim Zahawi, recém nomeado para comandar a economia, já havia instado publicamente a Boris Johnson que renunciasse: “Primeiro-ministro: isto é insustentável e só vai piorar: para você, para o Partido Conservador, e o mais importante de tudo, para o país. Você deve fazer a coisa certa e ir agora”.
Já Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista britânico, celebrou a decisão, mas a criticou por não ter ocorrido mais cedo. Para Starmer, o Partido Conservador tem estado no poder durante muito tempo e trouxe “12 anos de estagnação econômica, 12 anos de serviços públicos em declínio, 12 anos de promessas vazias”, sendo necessária “uma verdadeira mudança de governo”.
Michelle Donelan, recém nomeada secretária de Estado do Reino Unido, foi mais uma a anunciar sua demissão logo antes da saída de Johnson: “Com grande tristeza devo demitir-me do governo”.
Pelo menos 53 funcionários deixaram o governo do Reino Unido desde a terça-feira (5), com a maioria deles exigindo a renúncia do primeiro-ministro.
O ainda primeiro-ministro britânico foi submetido na quarta-feira (6) a uma moção de desconfiança, na qual recebeu 211 votos a favor, e 148 contra, só do Partido Conservador, o que foi suficiente para se manter no cargo.
Só que de lá até hoje a corda bamba balançou cada vez mais.
Ele está sendo alvo de críticas cada vez mais espraiadas devido a escândalos de festas em meio aos lockdowns no Reino Unido em 2020 e 2021, por ter encerrado o governo durante cinco meses de forma a assegurar a realização do Brexit, um ato que foi mais tarde determinado como ilegal pelo Supremo Tribunal britânico, e outras controvérsias políticas antes e depois de se tornar primeiro-ministro.
Boris Johnson, já estava bastante comprometido com a crise inflacionária e com o escândalo das festas privadas e ilegais, o Partygate. Mas, a gota d’água para a atual onda de renúncias foi a forma como o governo lidou com o Pinchergate, forma em que imprensa já apelidou o caso do deputado Chris Pincher que renunciou ao cargo de chefe de disciplina do partido e mais tarde foi suspenso, depois de admitir que apalpou dois homens em um Bar privado de Londres porque – segundo ele – ‘tinha bebido demasiado’. Não era a primeira vez que Pincher se via envolvido em escândalos, mas o gabinete do primeiro-ministro disse que Johnson não sabia de nada quando o nomeou em fevereiro.
Depois de ser revelado na terça-feira que a denúncia deputado Pincher existia desde 2019, o gabinete de Johnson tentou corrigir a situação, mas piorou as coisas, dizendo que o primeiro-ministro estava ciente do relatório, mas “esqueceu-se” de mencioná-lo.
A crise na Inglaterra tem variadas repercussões internacionais. Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia, crê que a demissão de Johnson é inevitável.
“Penso que não há outra saída para este nível de desconfiança de seus próprios cidadãos e dos colegas de gabinete, embora ele esteja aguentando até o último momento. Seu principal argumento é que ele não pode renunciar porque há uma guerra na Ucrânia, não tem mais nada a que se agarrar”.
De fato, a adesão submissa de seu governo aos ditames da Casa Branca quanto à utilização da Ucrânia para uma retomada desastrosa da Guerra Fria contra a Rússia, contribuiu decisivamente para o estouro da inflação com os preços estratosféricos dos combustíveis á frente do despenhadeiro econômico.