Crescimento de eleitores jovens revela engajamento contra Bolsonaro
por Cézar Xavier
A última vez que a juventude se engajou para alistar-se em massa na Justiça Eleitoral e participar de uma eleição foi em 2002, às vésperas da primeira vitória de Luís Inácio Lula da Silva (PT). Vinte anos depois, adolescentes com menos de 18 anos mobilizaram-se mais do que o esperado para participar das eleições em que Lula pode derrotar Jair Bolsonaro (PL).
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que esse segmento – que não é obrigado a votar – voltou a crescer este ano. Segundo dados da Justiça Eleitoral, o número de jovens de menos de 18 anos aptos a votar caiu de 2,2 milhões, em 2002, para 1,4 milhão em 2018, o número mais baixo da série histórica. Hoje são 2,1 milhões.
O voto aos 16 anos é uma importante conquista na Constituição de 1988, fruto da luta da União da Juventude Socialista (UJS), que se mobilizou ao lado de entidades estudantis para convencer os deputados constituintes. Depois, a UJS realizou a campanha “Se Liga 16” para promover o alistamento dessa juventude.
A cada dois anos, a UJS continua organizando essas campanhas pelo Brasil. Agora, com o avanço conservador do bolsonarismo no poder, ela voltou com entusiasmo surpreendente.
“A juventude é quem mais rejeita Bolsonaro e que está mais engajada na luta pela transformação, para tirá-lo do poder e construir um novo ciclo para o Brasil”, disse Tiago Morbach, presidente da UJS, a reportagem.
Ele se mostrou surpreso com a dimensão que a campanha tomou este ano, que ele credita ao cenário de desgaste do Governo Bolsonoro entre os setores mais jovens. “Tivemos esse recorde de mobilização, maior do que imaginávamos, com envolvimento de diversos artistas, influenciadores e personalidades, diversos setores da sociedade querendo mobilizar essa juventude. Acredito que esse eleitorado vai estar muito envolvido nessas eleições para tirar Bolsonaro do poder”, afirmou, fazendo referência a artistas com milhões de seguidores nas redes sociais, como a cantora Anitta.
A novidade das redes sociais é algo que também influenciou a campanha de alistamento este ano. “A juventude é bastante conectada, o que faz com que as redes sociais contribuam muito. Faz diferença a conscientização pelas internet”, relatou Tiago.
Ele mencionou a campanha da UJS “Tire o título e tire Bolsonaro”, também envolvendo personalidades culturais e influenciadores digitais. “Um post chegou a envolver mais de um milhão de pessoas”, comemorou.
O próprio TSE mudou a forma como se comunicou com os jovens. Das campanhas tradicionais na televisão, a Justiça Eleitoral aumentou a presença em meios virtuais e também aproveitou o engajamento de influencers para falar uma linguagem moderna e divertida. A espontaneidade das redes sociais também favorece uma comunicação mais autônoma de artistas e influenciadores, sem necessariamente precisar da aprovação dos grandes meios de comunicação.
O movimento ganhou mais corpo em março deste ano, mês em que, segundo dados do TSE, houve um crescimento maior no número de votantes dessa faixa etária. É possível que esses números também tenham sido impactados pela proximidade com a data final para tirar o documento, em 4 de maio.
A redução no número de jovens nas últimas eleições vinha acompanhada da diminuição percentual deste eleitorado em relação ao total. Em 1994, os jovens de 16 e 17 anos eram 2,2% dos aptos a votar, número que chegou a 1% em 2018 e agora é 1,35%. Outro fator que pode ter impactado esse processo é o fato de que a população brasileira está envelhecendo — e o eleitorado também.