A mobilização para a greve dos caminhoneiros, marcada para o dia 1º de fevereiro, cresce em todo o país, e o reajuste de 4,4% no preço médio do diesel, anunciado na terça-feira, fez aumentar ainda mais a insatisfação da categoria com o Governo Federal.

Nas últimas semanas, a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) confirmaram participação na greve. Nesta sexta-feira (29), o Sindicato das Indústrias de Petróleo também declarou apoio à paralisação dos caminhoneiros.

As entidades criticam a atual política de preços dos combustíveis, que têm como referência os preços internacionais, e assim acompanham as variações no mercado internacional e da taxa de câmbio.

Conforme o presidente da ANTB, José Roberto Stringascida, esse é um dos principais fatores para a paralisação. “Só tem data de início para parar. Não queremos trabalhar com preço internacional de petróleo. O caminhoneiro recebe o frete em real, mas o diesel está em dólar, o que faz com que todo o valor do trabalho vá para pagar o combustível”.

“O reajuste no preço [do combustível] precisa ser no mínimo a cada seis meses. O ajuste semanal torna impossível o trabalho dos caminhoneiros”, denuncia.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro afirmou que não atenderá a reivindicação da categoria. Em live ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, o presidente disse que não voltará atrás no aumento no preço do litro do óleo diesel na bomba.

“O que mais pesa no bolso deles é abastecer o tanque de óleo diesel. Temos também uma conta alta. É o biodiesel que vai no diesel adicional. Sai muito mais caro e reflete no total. O preço é alto”, afirmou Bolsonaro. “Cada centavo no diesel equivale a 800 milhões de reais por ano. O que a Economia apresentou para mim, aumenta aqui, aumenta lá, ia penalizar todo mundo”, disse.

Mesmo elevando o preço do diesel, Bolsonaro chegou a pedir aos caminhoneiros para não entrarem a greve, mas segundo informou Carlos Alberto Litti Dahmer, porta-voz da CNTTL e presidente do Sinditac (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga) de Ijuí-RS, o apelo de Bolsonaro “não mudou em nada a mobilização”.

Para Carlos Litti, “a categoria não suporta mais tanta exploração e a insensibilidade do Governo Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal (STF) referente à agenda de reivindicações que está parada há três anos”, citando, além das altas os combustíveis, o julgamento sobre a constitucionalidade da lei que criou o Piso Mínimo do Frete, também umas das principais reivindicações da categoria.

“Vamos dar um basta nisso. Vamos cruzar os braços no dia 1º de fevereiro”, afirma o caminhoneiro, que foi um dos principais líderes da greve que parou o país em 2018.

O mesmo afirma Wallace Landim, o Chorão, presidente da Abrava. Para ele, que até pouco tempo era apoiador de Bolsonaro, e agora se diz traído pelo presidente, “Bolsonaro não cumpriu as promessas de campanha”.

“Nesse momento esse apelo não nos convence”, diz Chorão. “Quem está fazendo apelo desde 2018 somos nós”.

Sobre a preparação para a greve, Chorão afirma que “a cada dia que passa está aumentando mais a temperatura”.

A CNTRC, que tem 40 mil filiados em 22 estados, enviou esta semana ofício ao Governo Federal, confirmando a paralisação na segunda-feira (1º).

Em live do Programa Sintonia – do Sindicato dos Portuários do RS -, divulgada no site da CNTTL, lideranças dos caminhoneiros do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto (SP) e São José dos Pinhais (Paraná) anunciaram a paralisação na próxima segunda.

“Nós não somos baderneiros, não somos terroristas, nós somos pais de família que estão suplicando para o Governo socorro e socorro! Nós estamos abandonados, a nossa Lei não é respeitada. Estamos orientando todos os caminhoneiros a ficarem em casa”, conclamou a diretora do SINDCAM-Ribeirão Preto, Lucélia Junior Pelegrini Venerozo.

Para o presidente da ANTB (Associação Nacional de Transportes do Brasil), José Roberto, “o movimento dos caminhoneiros não é para derrubar governo, a categoria foi quem mais apoiou Bolsonaro nas eleições. Simplesmente a categoria está reivindicando as leis de 2018 que estão em aberto até hoje”.

“Estamos passando hoje uma dificuldade muito grande! Se tivesse cumprido aquilo que foi determinado em 2018, não estaríamos aqui hoje neste debate, tudo que estamos passando é reflexo de 2018, nos prometeram muitas coisas e não foram cumpridas”, afirmou o diretor do SINDCAM do Rio Grande, Dieck Sena.