CPI não pode ser palco para negacionismo, alertam deputados
O depoimento da médica Nise Yamaguchi à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, nesta terça-feira (1º), foi alvo de críticas. Defensora da cloroquina para “tratamento” da Covid-19, mesmo sem comprovação científica da eficácia do medicamento, a médica oncologista e “conselheira” de Bolsonaro usou a CPI para disseminar desinformação, o que foi repelido por parlamentares do PCdoB.
“A CPI não pode servir de palco para o negacionismo. É preciso que se tomem as medidas cabíveis para o que está sendo dito e defendido”, alertou o deputado federal Daniel Almeida (BA).
Para a vice-líder da Minoria, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), “é triste ver médicas negarem a ciência e colocarem vidas em risco em virtude de interesses ideológicos”. “Mentir deliberadamente por diversas vezes em uma CPI sobre assuntos de tamanha gravidade é o fim”, afirmou.
Em seu depoimento, Nise afirmou que vacinação e tratamento precoce são estratégias diferentes, mas igualmente importantes. A fala provocou uma reação dura do presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), que pediu a fala da médica fosse desconsiderada por quem estivesse assistindo. Aziz afirmou que ela será convocada à CPI. Desta vez, a médica foi na condição de convidada, em que sua presença não era obrigatória.
“Quem está nos vendo nesse momento, eu peço que desconsidere essas questões que ela disse aqui em relação à vacina. Desconsidere o que está dizendo em relação a vacinas. Ela não está certa”, afirmou Aziz. “Quem está nos vendo não acredite nela. Tem que vacinar. A vacina salva. Tratamento precoce não salva”, completou
O senador Otto Alencar (PSD-BA) também confrontou as declarações de Nise e numa fala técnica desmontou seu discurso ao fazer uma série de perguntas a respeito da origem do coronavírus e detalhes sobre a Covid-19 que a médica não soube responder.
“A senhora não sabe nada de infectologia. É simplória e brincou com a saúde do povo. A senhora não poderia estar debatendo um assunto que não é do seu domínio. Isso não é honesto”, disse o senador Otto Alencar.
Para o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), o senador desmontou “a impostora”. “A doutora Nise Yamaguchi não entende patavina de infectologia para receitar remédios antiprotosoário como se fossem antivirais”, destacou o parlamentar. “O senador Otto Alencar fala o que é importante: o governo jamais poderia ter receitado a cloroquina a granel para a população, como se fosse bala jujuba. Esse é o problema: não há nenhuma base para ter sido a política pública recomendada pelo Ministério para tratar Covid”, completou Orlando.
“Que vexatório isso: a médica não sabe a diferença entre protozoário e vírus e ministrava “tratamento” com medicação prescrita e tudo mais! Era essa a pessoa escutada pelo presidente da República para decisões sobre a pandemia?! Fica mais claro porque o desastre sanitário que vivemos”, destacou a deputada federal Professora Marcivânia (PCdoB-AP), em referência a questionamentos de Alencar para demonstrar que medicamento para protozoários não servem para tratar doenças virais.
Quando confrontada sobre a eficácia da cloroquina, Nise recorreu reiteradamente a um estudo feito pela Fundação Henry Ford para defender o uso do medicamento. No entanto, ele foi interrompido em dezembro de 2020, após não comprovar a eficácia do medicamento no tratamento da Covid-19. A informação trazida pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) deixou a depoente desconcertada.
“É inaceitável um profissional rejeitar os estudos técnicos, de entidades qualificadas, e tentar divulgar estudos que foram encerrados, como é o caso do Henry Ford. A senhora sabe que esse estudo foi descontinuado pela própria entidade porque não gerou os resultados esperados?! A senhora tem consciência disso?”, questionou o senador.
O depoimento de Nise foi encerrado após início da Ordem do Dia no Senado para debate dos vetos presidenciais.