Covid: sem verba federal, UFPR lança campanha para desenvolver vacina
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) lançou neste mês uma campanha de arrecadação de doações para viabilizar uma vacina contra a Covid-19. Sem financiamento do governo federal e com seus recursos escassos, a pesquisa precisará de R$ 76 milhões em doações para seguir o cronograma estabelecido e bancar a finalização da atual fase pré-clínica, as três fases clínicas que envolvem testes em humanos, as despesas administrativas e a estrutura completa de uma micro fábrica.
Essas doações podem ser feitas por pessoas físicas e jurídicas e em qualquer valor por meio de depósito, chave pix ou transferência bancária. Todas as informações da campanha e a transparência de alocação dos valores ficam disponíveis no site vacina.ufpr.br.
Na corrida contra o tempo para desenvolver o imunizante, serão necessários mais recursos, além de R$ 1,265 milhão já obtido por meio da Rede Vírus, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), recursos próprios da universidade e do governo do Paraná.
O Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) vai destinar R$ 18 milhões para ajudar na pesquisa e desenvolvimento dessa vacina.
Para que o governo estadual realize o repasse imediatamente à universidade, o TCE vai antecipar a devolução do recurso superavitário ao Tesouro Estadual. A previsão é de que o dinheiro esteja disponível na próxima semana.
O projeto de desenvolvimento da vacina paranaense recebeu R$ 700 mil da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF), da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), em abril. Segundo a universidade, o valor foi utilizado nos estudos pré-clínicos da vacina, para o pagamento das bolsas e aquisição de insumos.
Vacina
Com insumos nacionais e com baixo custo de produção, a pesquisa da vacina da UFPR é desenvolvida desde junho de 2020 e deve terminar a fase pré-clínica nos próximos meses.
Foi utilizado um polímero bacteriano chamado polidroxibutirato (PHB), que utiliza a proteína spike da Covid-19, responsável por ligar o coronavírus às células humanas e de outros mamíferos.
As partículas do PHB são recobertas com a proteína do Sars-CoV-2, induzindo o organismo a uma forte resposta imune.
A vacina está em fase de testes, mas já apontou a produção de anticorpos em estudos na fase pré-clínica, realizada em camundongos, que apresentaram cargas altas de anticorpos contra o coronavírus.
O objetivo é que a vacina tenha baixíssimo custo, com estimativa de que seja entre R$ 5 e R$ 10 por dose, segundo a UFPR.
A tecnologia de produção pertence totalmente à universidade e é fruto de pesquisas com biopolímeros biodegradáveis e com partes específicas de proteínas virais.
Após os testes pré-clínicos, será possível solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para testes em humanos.
A pesquisa da vacina contra a Covid-19, de acordo com a universidade, também pode ajudar no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças, como a dengue e a leishmaniose.
Em coletiva, realizada na tarde da última segunda-feira (12), o reitor da universidade, professor Ricardo Marcelo Fonseca, destacou que a UFPR pretende protocolar pedido na Anvisa para a fase clínica no segundo semestre de 2021.
“Se essa vacina está ainda em testes, é importante, estratégico, necessário, que tenhamos esperança dessa vacina, ainda que ela fique pronta no ano que vem, que é a expectativa que temos. Essa vacina é necessária para o Brasil e para o mundo não só neste ano de 2021, mas será nos próximos anos”, disse.