Covid: líder do governo diz que situação do país é “até confortável”
O líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), afirmou nesta quarta-feira (17), em entrevista à Globonews, que o Brasil está em situação confortável ao comentar o número de mortos por milhão de habitantes e a quantidade de brasileiros vacinados.
“Olhe bem a estatística, mortes por milhão, ou seja, o cuidado do sistema de saúde com as pessoas. Reino Unido, 1.853 [mortes por milhão], em 4º lugar. Estados Unidos, 1.609 por milhão, em 11º. Brasil, 1.300 mortes por milhão, em 22º lugar”, comemorou Barros.
Para especialistas, a relação de mortes por milhão de habitantes não é o parâmetro ideal para avaliar o andamento da pandemia. Eles afirmam que devem ser considerados outros fatores, como o estágio da doença, o tamanho e o perfil etário da população e o nível de testagem.
De acordo com um levantamento do projeto “Our World in Data”, ligado à Universidade de Oxford, o Brasil tem 1.327,28 mortes/milhão, o 23º pior índice entre todos os países.
Também de acordo com o levantamento, o Brasil ocupa a 11ª posição em número absoluto de vacinados e a 89ª se levado em consideração ao percentual em relação à população. Até o momento, 4,91% da população brasileira tomou a primeira dose da vacina e 1,79% está imunizada com duas doses.
O Brasil é o segundo país do mundo em número absoluto de mortes. Só fica atrás dos Estados Unidos. Foi registrado na terça (16) um novo recorde negativo com 2.798 mortes pela Covid-19 em 24 horas e totalizou 282.400 óbitos desde o início da pandemia. Também desde que a pandemia começou, o país já registrou 11.609.601 casos de infecção pelo coronavírus, 84.124 deles confirmados na terça. Segundo a Fiocruz, o Brasil passa pelo maior colapso hospitalar da história.
É a maior tragédia sanitária de nossa história. A cada dia, cerca de dois mil brasileiros entram nas estatísticas de óbito, vitimas da Covid-19. É como se vinte aviões caíssem todos os dias matando todos os seus passageiros e tripulantes, mas o líder do governo Bolsonaro acha que a situação está “confortável”.
Ricardo Barros deve estar vivendo em outro mundo. Ou, quem sabe, em se tratando do governo Bolsonaro, ele não estaria, na verdade, vivendo, não em “outro mundo”, mas sim num “outro submundo”.
O ritmo da vacinação no país, ao contrário do que diz o líder de Bolsonaro, é considerado muito lento por especialistas. Se o ritmo atual for mantido, a Fiocruz prevê dois anos e meio para imunizar todos os brasileiros com mais de 18 anos; e só com a primeira dose. Em várias cidades importantes, a vacinação tem sido interrompida por falta de doses.
Ao contrário também do que todos os especialistas estão alertando sobre a catástrofe que se aproxima e sobre o colapso iminente do sistema de saúde, o líder de Bolsonaro disse que as mortes elevadas não é um problema só do Brasil e que o governo não esperava esse “repique de casos de Covid-19″ no início do ano”. Indiferente ao que está ocorrendo, ele disse que o sistema está “suportando bem”. Sem citar números, ele afirmou que “em alguns lugares temos o esgotamento da rede”.
Claro que o líder do governo Bolsonaro não quis citar números e nem falar da realidade. Preferiu dizer que eram “alguns lugares”, mas a situação é crítica em 25 das 27 capitais. O Sul e Sudeste, as regiões mais populosas do país, estão sem leitos de UTI, no entanto, o líder do governo acha que está tudo muito confortável.
“Então, nosso sistema de saúde responde, está melhor no tratamento às pessoas do que a maioria dos países de primeiro mundo que estão na nossa frente em número de vacinados”, afirmou o deputado.
Repetindo o que Bolsonaro vive dizendo, Barros tentou também jogar a culpa do agravamento da crise nos governadores e prefeitos. Repetiu a cantilena de que o Supremo Tribunal Federal (STF) teria determinado que a União não pode tomar a frente da luta contra o coronavírus.
Bolsonaro usou esse pretexto para sabotar abertamente a vacinação da população brasileira e as medidas de prevenção contra a doença. Atrasou o quanto pode a assinatura de contratos de compra das vacinas, combateu o uso de máscaras e promoveu aglomerações. Agora, o seu líder acha que pode esconder tudo isso do país.