Covid: EUA chega a 128 mil casos/dia e Biden anuncia força-tarefa
Sob o negacionismo e incompetência do governo Trump, agora desalojado pelas urnas, o coronavírus está descontrolado nos Estados Unidos, com os novos casos diários ultrapassando a marca dos 120 mil e sistema hospitalar perto do limite em muitos Estados. Nesta segunda-feira (9), o presidente eleito Joe Biden anunciou sua nova força-tarefa contra a pandemia, conclamou ao uso da máscara e garantiu que a vacina será gratuita.
Na quinta-feira (5), foram registrados mais de 121.888 novas infecções em 24 horas. Na sexta-feira (6), 126.480. No sábado (7), os novos casos de Covid-19 foram 128.412.
Recordista mundial em mortos e contágios, os EUA chegaram nesta segunda-feira (9) segundo a Universidade Johns Hopkins a 10 milhões de infectados, 20% do total mundial – sendo que os norte-americanos são 4% da população do planeta. A marca de 9 milhões de contágios havia sido registrada no dia 30 de outubro.
Assim, não surpreende que a questão decisiva para a definição do voto nos EUA haja sido o fracasso de Trump diante da pandemia.
Ao apresentar seu conselho consultivo para a pandemia, Biden declarou que “vamos seguir a ciência. Vou falar de novo: vamos seguir a ciência”. Ele salientou que lidar com a pandemia “é uma das batalhas mais importantes que nosso governo enfrentará”.
O presidente eleito disse ainda: “Eu imploro: usem máscara”. Convocando à união para derrotar o vírus, Biden salientou que uma máscara “não é uma declaração política, mas uma boa forma de unir o país.”
O negacionismo ao uso da máscara e ao distanciamento social se tornou a marca registrada da manipulação, por Trump e seus sequazes, do eleitorado branco pouco escolarizado, como forma de dividir e gerar hostilidade.
Os mortos pela Covid ultrapassaram os 237 mil – mais que os norte-americanos mortos na I Guerra Mundial e nas guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão, somados.
Apenas no sábado, quase 1.100 norte-americanos morreram da Covid, de acordo com o Covid Tracking Project. “São três aviões a jato cheios de pessoas caindo e morrendo”, disse David Eisenman, diretor do Centro de Saúde Pública e Desastres da UCLA, que previu que ficará “cada vez pior.”
O Instituto de Avaliação e Métricas de Saúde da Universidade de Washington previu que 370 mil americanos morrerão até o dia da posse de Biden – exatamente um ano após ter sido relatado o primeiro caso de Covid-19 nos EUA.
A contagem diária de novos casos nos EUA é agora maior do que o número total de casos de Covid-19 na China durante toda a pandemia. O número médio de novos casos diários na América aumentou espantosos 30 por cento na semana passada.
Em 43 dos 50 Estados, os contágios diários estão em alta, sendo que em 19 Estados é recorde o número de pessoas hospitalizadas. Em várias áreas do país, a escassez de leitos de UTI e de pessoal especializado está deixando os pacientes amontoados em salas de emergência. Entre os Estados mais afetados estão os do centro rural do país, onde os sistemas de saúde são cronicamente subfinanciados.
À medida que o inverno se aproxima, a situação sanitária do país fica mais precária. “Novembro vai ser muito difícil para todos nós”, disse a governadora democrata Michelle Lujan Grisham – candidata a liderar a pasta da Saúde no governo de Biden. “Não há nada que possamos fazer, nada, que mude a trajetória. … É tarde demais para reduzir drasticamente o número de mortes. Novembro acabou.”
O Texas agora tem mais casos do que qualquer outro Estado, com mais de um milhão. O Departamento de Defesa enviou três equipes médicas de emergência para El Paso, e a cidade montou instalações médicas de emergência temporárias para apoiar seus hospitais lotados. O necrotério municipal comprou outro trailer refrigerado para lidar com o aumento da contagem de corpos.
Em Minnesota, funcionários da saúde disseram na semana passada que os leitos de UTI na área metropolitana das Cidades Gêmeas – Minneapolis e St. Paul – estavam 98% ocupados.
No Novo México, o número de pessoas hospitalizadas quase dobrou nas últimas duas semanas e as autoridades estaduais disseram na quinta-feira que esperam ficar sem leitos gerais em alguns dias, como registrou o portal Político.
“Temos pacientes amontoados em nosso pronto-socorro”, disse Jeffrey Sather, chefe de equipe da Trinity Health em Dakota do Norte, durante uma entrevista coletiva na semana passada. “O processo normal é ligarmos para os hospitais maiores e pedirmos que aceitem nossos pacientes. Não encontramos nenhum outro hospital que pudesse cuidar de nossos pacientes.”
O governador do estado americano de Utah, o republicano Gary Herbert – aquele que foi anfitrião do comício fracassado de Trump -, decretou na noite de domingo (8) estado de emergência devido à pandemia, por causa da superlotação hospitalar.
Ele alertou para o “índice alarmante de infecções por Covid” e disse que as mudanças “não vão fechar a economia, mas são absolutamente necessárias para salvar vidas e a capacidade hospitalar”. Inclusive aderiu ao uso obrigatório de máscara.
Também alguns governadores do Nordeste, região duramente atingida no início da pandemia, estão reinstaurando restrições. Na semana passada, Connecticut, Massachusetts e Rhode Island ativaram os pedidos de estadia em casa à noite e ordenaram que as empresas fechassem às 22h. E a governadora democrata do Maine, Janet Mills, determinou na quinta-feira que todos usassem máscaras em público.
Ainda assim há os recalcitrantes. No domingo, a governadora republicana da Dakota do Sul, Kristi Noem, atribuiu a enorme alta no número de casos em seu Estado a um ‘aumento nos testes’ – a tese preferida de Trump – e ainda elogiou a abordagem da Casa Branca por lhe dar a “flexibilidade para fazer a coisa certa” diante do coronavírus.
Segundo o presidente eleito Biden, seu recém anunciado conselho consultivo contra a Covid “ajudará a moldar a abordagem para lidar com o aumento nos contágios relatado; garantir que as vacinas sejam seguras, eficazes e distribuídas de forma eficiente, equitativa e gratuita; e proteger as populações em risco”.
O conselho também ficará encarregado de elaborar um plano para ser colocado em prática assim que Biden tome posse no dia 20 de janeiro. Outras pessoas serão adicionadas a esse grupo durante a transição.
Um dos aspectos essenciais de um efetivo combate à pandemia – a ‘inteligência epidemiológica’ – também estará na mira da nova força-tarefa, visando implantar um programa de rastreamento voltado para a testagem de todos os contatos daqueles que hajam sido contagiados, para evitar uma alta nas taxas de transmissão.
O conselho consultivo será liderado pelos co-presidentes Vivek Murthy (ex-cirurgião-geral), David Kessler (ex-comissário da FDA, a ‘anvisa’ norte-americana) e Marcella Nunez-Smith (médica da Universidade de Yale). A presidente do comitê de monitoramento de pandemias em nível mundial, que existia sob o governo Obama e foi desmantelado em 2018 por Trump, a brasileira Luciana Borio, radicada nos EUA desde a década de 1980, também integrará o comitê. Outros nomes são dos especialistas Rick Bright, Ezekiel Emanuel, Atul Gawande, Celine Gounder, Julie Morita, Michael Osterholm, Loyce Pace, Robert Rodriguez e Eric Goosby.
Declaração da corporação farmacêutica Pfizer, que vem desenvolvendo com a alemã BioNTech uma vacina, sobre o sucesso de seu produto recebeu enorme destaque da mídia, segundo a qual a vacina seria “90% eficaz”. Segundo o portal norte-americano Político, a declaração veio do executivo-chefe da Pfizer: “se nossa vacina contra o coronavírus for 90% eficaz, será ‘uma virada de jogo’.
A Pfizer e sua parceira, a BioNTech, anunciaram ainda que pretendem solicitar ao FDA uma autorização de uso de emergência antes do final do mês, assim que apresentem dados suficientes sobre a segurança da vacina.
A referência à ‘virada de jogo’ é que a vacina depende de uma tecnologia ainda não comprovada envolvendo material genético conhecido como RNA mensageiro, ou mRNA. Quando esse mRNA é injetado no corpo, faz com que as células façam cópias da proteína espigão do coronavírus – o que, por sua vez, faz com que o sistema imunológico produza anticorpos.
De acordo com os especialistas, o resultado é “encorajador, mas preliminar” e não foi revisado por pares ou publicado em um jornal científico.
“Devemos permanecer um pouco cautelosos, disse Michael Head, pesquisador sênior em saúde global da Universidade de Southampton, no Reino Unido.”
Outra questão a conferir é quanto tempo dura a proteção imunológica da vacina. Os dados limitados que a Pfizer divulgou revelam apenas o desempenho da vacina sete dias após a segunda das duas doses.