Covid: após vacinação infantil, Cuba não registra mortes de crianças
“Uma vez concluída a campanha de vacinação infantil, não há nenhum caso de falecimento pediátrico”, afirmou a doutora em Ciências, María Eugenia Toledo, pesquisadora principal dos ensaios clínicos com a vacina Soberana 02 no Instituto de Medicina Tropical Pedro Kourí (IPK).
Apesar do bloqueio norte-americano, Cuba anunciou ter conseguido nesta semana imunizar todas as crianças e quase 90% da população, além de oferecer suas vacinas contra a covid-19 para dezenas de países. Para concluir a imunização pediátrica foram mais de 3,3 milhões de doses para mais de 1,6 milhão de meninas e meninos.
Especialistas e autoridades sanitárias cubanas denunciaram durante uma conferência internacional a existência – e a persistência durante o governo de Joe Biden – de um “apartheid” de vacinas, com a falta de vacinas nos países pobres, enquanto que a ilha caribenha surge como promotora do “internacionalismo”.
“É uma proeza inédita que desperta admiração em outras partes do mundo e que foi desenvolvida em tempo recorde”, declara Ileana Morales Suárez, diretora de Inovação Científica e Tecnológica do Ministério da Saúde Pública. Por isso, ressaltou, “as vacinas se tornaram um orgulho nacional e os cientistas e profissionais de saúde envolvidos neste processo são heróis no imaginário popular cubano”.
Cuba tem atualmente três vacinas covid-19 que receberam autorização para uso emergencial da agência reguladora nacional: Abdala, Soberana 02 e Soberana Plus. Outras duas ainda estão em fase de testes clínicos: Soberana 01 e Mambisa.
A nação socialista começou a desenvolver suas próprias vacinas na década de 1980, descobrindo a primeira contra a meningite B, e hoje fabrica quase 80% das vacinas incluídas em seu programa de imunização. O país conta com uma indústria farmacêutica que conseguiu desenvolver três vacinas contra a covid-19, e tem outras em fase de estudo. Nenhuma dessas fórmulas foi reconhecida e incluída na lista de vacinas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas já receberam autorização para uso emergencial e já são aplicadas em países como Venezuela, Irã e Vietnã, atendendo dezenas de milhões de pessoas.
Conforme o diretor de Ciência e Inovação da estatal BioCubaFarma, Rolando Pérez Rodríguez, há razões que explicam os avanços positivos que vêm sendo conseguidos. Entre eles, destacou que Cuba fez um forte investimento em ciência e tecnologia desde a década de 1980, e atualmente pode trabalhar “em uma carteira de 101 produtos biofarmacêuticos em desenvolvimento, dos quais 32% são vacinas”.
Pérez Rodríguez também destacou a “participação pró-ativa e consciente da população”, que tem garantido um alto nível de cobertura e uma alta taxa de vacinação diária. Por outro lado, a autoridade cubana avaliou a “inovação organizacional” com base em um modelo triangular concebido entre a indústria, a agência reguladora nacional e o sistema nacional de saúde.
“Esta grande obra de humanidade e amor foi possível apesar do bloqueio criminoso e intensificado dos Estados Unidos, que representa um cerco econômico atroz ao qual nenhum país deve ser submetido”, condenou Ileana Morales Suárez. Nesse sentido, a responsável da pasta da Saúde disse que Cuba “ratifica que a abordagem excludente imposta pelo neoliberalismo vigente à produção e aquisição de vacinas deve cessar” para garantir uma distribuição equitativa e solidária.
De acordo com o pesquisador italiano Fabrizio Chiodo, “Cuba não apenas exporta vacinas ou solidariedade como sempre fez, mas para exportar uma alternativa ao sistema econômico, que é a biotecnologia pública”. Mais do que demonstrar que “as grandes empresas farmacêuticas são vilãs”, sentenciou Chiodo, “Cuba tem demonstrado que o bandido é o sistema econômico” que nega vacinas e promove a morte ao tempo em que alavancar lucros.