Legenda: Superlotada, UTI do Hospital Nacional de Itauguá expõe a caótica situação da Saúde no Paraguai

Com 7,3 milhões de habitantes, o Paraguai ultrapassou os 415 mil casos e as 12 mil mortes até esta sexta-feira, mais da metade nos últimos dois meses, desde que registrou o primeiro caso de Covid-19, em março de 2020 e apenas 1,85% da população foi vacinada com duas doses (dados de 26/06).

Os hospitais lotados, sem oxigênio e amargando a falta de vários medicamentos demonstram o caos em que se encontra o sistema de saúde no país.

Diante da gravidade da situação, os profissionais de saúde estão advertindo para uma “crise crescente” no sistema público e privado, que tem resultado em “mortes que poderiam ser evitadas”. Especialistas advertem que o Paraguai tem sido mais fortemente golpeado porque, além de não contar com uma infraestrutura de saúde básica, não reúne as condições para produzir oxigênio e tem seu acesso a vacinas bastante restrito.

Com a limitada rede de saúde pública completamente lotada para atender o enfrentamento ao coronavírus, foi aberta uma linha de financiamento para a internação em hospitais e clínicas privadas que não conta mais com nenhum fundo. E mais, suas dívidas já alcançam 375 bilhões de guaranis (55,5 milhões de dólares).

Entre os inúmeros exemplos de clínicas privadas que tiveram de fechar a sua Unidade de Terapia Intensiva está a de uma de Cidade de Leste, que não conseguiu mais absorver os custos de internação dos enfermos.

Segundo o ministro da Saúde, Julio Borba, apenas para cobrir a “Lei de Gasto Zero” – que beneficia pacientes com coronavírus na rede de saúde privada – são necessários 20 milhões de dólares mensais extras.

Diante da gravidade da situação, em reunião com parlamentares, os representantes do governo propuseram que se delimite o número de beneficiários – deixando que morram – ou se aumente os impostos, em plena pandemia.

Apesar das inúmeras denúncias e testemunhos sobre a necessidade de dar respostas emergenciais, o governo de Mario Abdo Benítez continua insistindo que não há problemas no atendimento da rede e nem mesmo com o suprimento de oxigênio. “A demanda de oxigênio [durante a segunda onda] aumentou cerca de 400%. A produção em nosso país satisfaz a 70% disso e o resto estamos importando”, declarou o diretor de administração de suprimentos estratégicos do Ministério de Saúde, Derlis León.

Na realidade, relatam médicos, enfermeiros e familiares das vítimas, são inúmeras as pessoas que faleceram por falta de oxigênio, mas León insiste que não houve “um único paciente morto pela falta de oxigênio, mas por complicações da pandemia”.

“Não há uma rejeição direta dos pacientes, mas quando chegam explicamos que não há mais oxigênio suficiente. Por isso, não podemos lhes dar a atenção que merecem. Infelizmente, há duas semanas, estão se recusando pacientes”, informou a doutora Fátima Ovando, chefe do Departamento de Controle de Infecções do Hospital das Clínicas, próxima à Assunção.

O Paraguai aplicou 662.679 mil doses e tem somente 1,85% da população totalmente vacinada, segundo dados da Johns Hopkins University de 26/06 . “É uma vacinação a conta-gotas. Se continuarmos neste ritmo, em três anos vamos alcançar o 75% necessário para frear o surto pandêmico”, resumiu o epidemiologista Tomás Mateo Balmelli.