Para Bolsonaro, vitamina D combatia o vírus apesar de laudos contrários do Ministério da Saúde

Mesmo sem evidências científicas conclusivas de seus efeitos em relação à Covid-19, Jair Bolsonaro passou por cima de ao menos quatro notas técnicas do próprio Ministério da Saúde ao fazer a defesa da vitamina D para tratar pacientes contaminados pelo novo coronavírus e para prevenir a doença.

Em 8 de abril de 2020, mesmo dia que a pasta da Saúde publicou nota técnica desconsiderando a relação entre o déficit da vitamina D e a Covid-19, com base na análise de estudos científicos, o Ministério da Economia publicou medida no Diário Oficial zerando impostos para o medicamento “tendo por objetivo facilitar o combate à pandemia do coronavírus”.

Segundo a nota do Departamento de Gestão da Incorporação de Tecnologias e Inovação do Ministério da Saúde, não foi identificado estudo clínico que tenha observado efeitos do nutriente como agente profilático da Covid.

“Não há evidência científica sobre a eficácia da suplementação de vitamina D na prevenção de infecções por Sars-CoV-2 e a associação entre deficiência de vitamina D e o risco de agravamento de infecções por Sars-CoV. Nenhum estudo clínico randomizado ou observacional foi identificado para responder às duas questões”, concluíram os técnicos da Saúde.

O órgão disse que ainda era necessária a condução de ensaios clínicos para avaliar a eficácia da suplementação de vitamina D na prevenção de infecções respiratórias pela Covid e o risco de agravamento da infecção por falta dela.

Antes da publicação do estudo, Bolsonaro já havia anunciado em suas redes sociais que zeraria impostos de vitamina D, hidroxicloroquina e azitromicina, outros medicamentos que também não têm efeito contra a Covid.

A Saúde publicou mais duas notas sobre o tema, em maio e em setembro de 2020. A pasta afirmou que não foram identificadas nos estudos evidências robustas e conclusivas quanto à eficácia do uso da vitamina D na prevenção da infecção, tratamento, redução de hospitalização ou redução da mortalidade pela doença.

Apesar das evidências científicas em contrário, Bolsonaro reclamou das medidas de distanciamento social como o fechamento de praias. “Uma forma de blindar a Covid é a vitamina D. Então, você pega sol. E ficam dando ordem, igual a essa do governador de São Paulo, que não tem como ser cumprida”, disse. A crítica foi repetida por ele em 31 de março deste ano.

Associada à exposição solar, a vitamina D é conhecida por ser uma das principais reguladoras da absorção de cálcio pelo organismo, cuja deficiência está ligada ao desenvolvimento de problemas como osteoporose, raquitismo e maior risco de fraturas.

O Ministério da Saúde publicou uma nova nota técnica sobre o tema, em março deste ano, dizendo que identificou oito estudos sobre o tema: cinco de baixa qualidade e três de qualidade moderada.

“Corroborando a opinião de agências de saúde internacionais, esta análise representa um corpo de evidência pouco robusto acerca da associação entre os níveis de vitamina D no sangue e a gravidade, risco ou mortalidade da infecção pelo novo coronavírus”, diz o estudo.