A pandemia de Covid-19 – uma ‘gripezinha’, segundo Jair Messias Bolsonaro – já deixou mais de 100 mil mortos em todo o mundo até esta sexta-feira (10), de acordo com a universidade norte-americana Johns Hopkins. O total de infectados superou os 1,6 milhão.

Ontem completaram-se 100 dias desde o primeiro registro de um caso, “uma pneumonia estranha de origem desconhecida” na China, no dia 31 de dezembro do ano passado.

A primeira morte ocorreu na China em 11 de janeiro, um homem de 61 anos. Desde então, cenas como o comboio de caminhões do exército levando dezenas de caixões fechados para outras regiões da Itália, após o colapso dos cemitérios e crematórios de Bérgamo, ou os caminhões frigoríficos improvisados de necrotério nas portas dos hospitais de Nova Iorque, não pararam de causar impacto no planeta inteiro.

A OMS declarou o coronavírus ‘emergência mundial de saúde pública’ em 30 de janeiro e reconheceu a condição de pandemia no dia 11 de março.

Demorou 83 dias para as primeiras 50 mil mortes serem registradas e apenas mais oito para que o número chegasse a 100 mil.

Quando o mundo atingiu o patamar das mil mortes, 28 dias após a primeira constatação da doença, os óbitos estavam praticamente concentrados na China. Agora a Covid-19 afeta 187 países e territórios.

O recorde de mortes diárias foi registrado pelos EUA no dia 8 de abril: 1.973. O país já é o segundo em total de mortos – 18,2 mil -, quase empatado com a Itália (18,8 mil). A cidade de Nova Iorque sozinha já tem mais mortos que a China inteira (5 mil a 3,3 mil).

A Itália superou a China em número de mortos no dia 19 de março – a pandemia no país asiático, graças ao rigor das medidas de contenção e da testagem em larga escala, está sob controle. Wuhan teve seu fechamento total levantado há dois dias, depois de 76 dias de bloqueio.

Quase a metade do total de mortos corresponde à Europa, particularmente quatro países – a já citada Itália, a Espanha, a França e a Grã Bretanha.

O Irã – sob sanções genocidas de Trump – completa a lista de países com maior número de mortes pela Covid-19.

O Brasil, nesta sexta-feira, superou a marca dos mil mortos. Na América Latina, causou estupor os corpos das vítimas da Covid-19 abandonados ou queimados nas ruas no Equador, na maior cidade do país, o porto de Guaiaquil.

A África é o continente menos afetado pela doença, com menos de 500 mortes – mas lá o risco é particularmente alto, em razão da fragilidade dos sistemas de saúde e da pobreza em que está imersa.

A OMS tem travado uma luta incansável contra o menosprezo à imperiosa necessidade de manter as medidas de quarentena e de “testar, testar, testar” para confinar doentes e tratá-los, de parte de governos obscurantistas ou que simplesmente só se preocupam com os bancos e as Bolsas de Valores.

A orientação da OMS expressa uma verdade básica: de que, ainda sem uma vacina e sem tratamento comprovado, a forma fundamental de conter a pandemia é através da redução dos contágios, reduzindo a circulação de pessoas e isolando os doentes, o que é um aprendizado milenar da humanidade e agora sustentado em bases científicas.

A redução da circulação das pessoas visa achatar a curva de contágio para que o sistema de saúde, que terá de dar conta de atender em UTI os casos graves, não entre em colapso, como foi visto na Itália de forma dramática.

Alguns dos países que resistiram a adotar as medidas de quarentena, caso do Japão, recuaram esta semana, sob pressão de que o surto exploda em Tóquio. A medida também foi afinal implementada pela Indonésia.

Através de um esforço inaudito, que incluiu o fechamento total da província que era o epicentro da pandemia, a China ganhou um tempo precioso para os demais países do mundo que, infelizmente, como mostram os números de países como os Estados Unidos, foi desperdiçado. A China também forneceu ao mundo o sequenciamento do genoma do coronavírus, etapa preliminar para a obtenção de uma vacina e a definição de tratamentos eficazes.

Trump chegou a dizer que a Covid-19 era como “uma gripe comum”, chegou a asseverar que o surto estava “sob controle”, depois se viu forçado a recuar e admitir normas mínimas de quarentena quando Nova Iorque já estava perto do caos, andou ensaiando “reabrir os negócios” até “à Páscoa” e já anda falando nisso de novo, pondo como data o 1º de maio.

Basicamente foram os governadores e prefeitos dos EUA que sustentaram a quarentena, com a ajuda do principal consultor científico de epidemias do país, o Dr. Anthony Fauci.

Nos últimos dias, a OMS tem alertado quanto ao risco de um “rebote” – uma segunda onda de contágios – caso o levantamento das medidas de distanciamento social seja feito de forma apressada e sem as precauções indispensáveis – particularmente quanto aos testes e normas de segurança sanitária.

Como alerta, uma segunda onda aconteceu na epidemia de gripe espanhola, no início do século passado (1918-1919), que matou milhões no mundo inteiro.

A China vem mostrando como fazer a reativação da economia e manter rigor nas medidas anticontágio.

Com os EUA prestes a superar a Itália como recordista de mortes de Covid-19 e já sendo campeão mundial de contágios, o presidente Trump passou a tentar fugir da sua própria responsabilidade – pela inação e incompetência -, acusando a China e a OMS na semana que ele próprio dissera seria de “dias muito duros”.

No entanto, pesquisadores norte-americanos já comprovaram que, em Nova Iorque, a procedência do vírus é via Europa, e já estava em circulação nos EUA antes que Trump tomasse qualquer medida.