A Comissão Nacional de Saúde da China disse na quarta-feira (5) que 3.971 novos casos suspeitos foram confirmados a partir de terça-feira à meia-noite no continente, em comparação com 5.072 casos na segunda-feira e 5.173 no domingo. No epicentro da epidemia, na província de Hubei, os números são respectivamente 1.957, 3.182 e 3.260.

A queda acentuada na terça-feira é vista como um sinal de que medidas rigorosas de controle têm gradualmente produzido resultados positivos, disse Zhou Zijun, especialista em saúde pública da Universidade de Pequim, ao jornal Global Times.

“Se novos casos suspeitos continuarem a cair nos próximos dias, o ponto de inflexão [para a epidemia nacional de coronavírus] é esperado em um futuro próximo”, observou Zhou.

Outro sinal positivo é que as taxas de recuperação diárias superaram as taxas de mortalidade diárias nos últimos dias, mostraram dados da Comissão Nacional de Saúde da China. Na terça-feira, para 65 novos óbitos, houve 125 novas altas

A queda deve-se principalmente à capacidade aprimorada de detecção, que permitiu confirmar ou excluir casos suspeitos em prazos mais curtos, explicou Song Shuli, porta-voz da Comissão Nacional de Saúde da China em entrevista coletiva nesta quarta-feira.

Isso permitiu que os pacientes confirmados fossem tratados em tempo hábil, enquanto os casos excluídos podem retornar à sua vida normal, acrescentou. 

O apoio de todo o país, incluindo pessoal e suprimentos médicos, ajudou a conter a propagação do vírus, disse Zhou, citando o Hospital Huoshenshan como exemplo.

O hospital com 1.000 leitos foi concluído em 10 dias e recebeu o primeiro grupo de pacientes na terça-feira.

Zhou também observou que a conscientização pública aprimorada e a atividade externa reduzida contribuíram para a queda de novos casos suspeitos. “O público deve ficar alerta, mas não precisa entrar em pânico”, disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, em entrevista coletiva nesta quarta-feira, que espera que o ponto de inflexão chegue em breve ao abordar a queda de novos casos suspeitos. 

“Não estamos em uma pandemia”, disse Sylvie Briand, diretora do Departamento de Gerenciamento de Riscos Infecciosos da Organização Mundial da Saúde (OMS), em entrevista coletiva na terça-feira em Genebra, na Suíça. Ela considerou os casos fora da China – e inclusive os fora da província, que é epicentro da epidemia – como “transbordamentos”, que podem ser contidos pelas medidas em vigor.

Como explicou Briand, apesar de o novo vírus já ter infectado mais de 24 mil pessoas em 27 países e territórios, com 490 mortes, a esmagadora maioria dos casos ocorreu na China, sendo que 78% vêm da província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Ocorreram na China continental 99% dos casos de contágio e também dos óbitos.

Briand descreveu esses casos fora de Hubei como “casos de transbordamento” – pessoas que foram infectadas na província antes que fosse bloqueada e se mudaram para outros lugares. As mortes no exterior – duas – correspondem a 0,4% dos óbitos totais.

A taxa de mortalidade permanece em 2,1%, sendo que fora de Hubei cai para 0,16%, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde da China. 80% dos mortos são pessoas com 60 anos ou mais e 75% tinham doenças anteriores, como diabetes.

Também o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, instou os países a não impor restrições de viagens e comércio alegando a epidemia. “Tais restrições podem ter o efeito de aumentar o medo e o estigma, com poucos benefícios para a saúde pública”, afirmou Ghebreyesus durante reunião na terça-feira do conselho executivo da OMS.

“Onde tais medidas foram implementadas, pedimos que sejam curtas, proporcionais aos riscos à saúde pública e sejam reconsideradas regularmente à medida que a situação evolui”, acrescentou.

Nos últimos dias, vários países e também companhias aéreas anunciaram medidas que restringem as viagens desde a China. A mais extrema delas partiu dos EUA, que proibiu o ingresso em solo norte-americano de qualquer estrangeiro que haja estado na China nos últimos 15 dias.

Outro aspecto da “estigmatização” assinalada por Ghebreyesus é o surgimento nas redes sociais de vários países de manifestações abertamente racistas contra chineses e orientais, a pretexto da epidemia.

A diretora de gerenciamento de riscos de infecção da OMS afirmou em sua entrevista que o esforço atual é “tentar extinguir a transmissão em cada um dos vários focos”, acrescentando que a agência acredita que isso “pode ​​ser feito com as medidas de contenção atualmente em vigor”.

Essas ações incluem detecção precoce de casos, isolamento e tratamento precoce de casos, rastreamento de contatos e medidas de detenção social em locais onde há risco de transmissão, disse Briand.

Como salientou, esses são os elementos principais de qualquer resposta a surtos e podem ser suficientes para impedir a propagação de uma infecção.

A última pandemia registrada pela OMS foi a gripe H1N1 em 2009 – originária dos EUA. Na semana passada, a OMS declarou o surto do novo coronavírus 2019nCoV uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Emergências anteriores incluíram Ebola, Zika e H1N1.

Apesar da capacidade de contágio do novo coronavírus ter se mostrado elevada, por outro lado sua mortalidade (2 por 100 casos) é baixa, ainda mais em comparação com coronavírus precedentes. O da SARS (Síndrome Aguda Respiratória Severa) matava 10 para cada 100 casos e o MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), 34 de 100.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu aos Estados Membros para não perderem a “janela de oportunidade” que, segundo ele, existe para impedir a propagação da doença graças às “medidas fortes tomadas pela China”.

Mais 12 milhões de pessoas, em regiões próximas a Xangai, o coração econômico da China, se juntaram na terça-feira à quarentena que já vinha englobando mais de 56 milhões na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. O confinamento abrange a cidade de Taizhou, em três distritos de Hangzhou e três em Ningbo, todas na província de Zhejiangen, no leste da China. A província confirmou 829 casos, o maior número fora de Hubei.

A China anunciou a construção de oito novos hospitais em Wuhan para atender casos menos graves. Até esta quarta-feira, entre médicos e paramédicos, 10 mil profissionais da saúde, de todas as partes da China, chegaram para apoiar a população de Wuhan.

Na reunião, o diretor-geral da OMS também alertou que alguns países ricos estavam “muito atrasados” no compartilhamento de dados sobre casos de coronavírus, e pediu mais solidariedade global para combater a emergência mundial de saúde pública. “Dos 176 casos relatados fora da China até agora, a OMS recebeu formulários completos para apenas 38% dos casos”, assinalou Ghebreyesus.

“Alguns países de alta renda estão muito atrasados ​​em compartilhar esses dados vitais com a OMS”, acrescentou. Ele salientou ser “inadiável” que os Estados membros compartilhem informações com a OMS, “incluindo a gravidade epidemiológica, clínica e os resultados de estudos e investigações comunitárias”. Sem o que – advertiu – fica difícil para a OMS avaliar a evolução do surto.