A resolução do problema da ‘mudança climática’ não pode ser uma ‘guerra de ricos contra os pobres'.

Debaixo de uma intensa chuva, milhares de manifestantes marcharam neste sábado (7) em Glasgow, na Escócia, para exigir “justiça climática” em um dia de mobilização global, depois que a ativista sueca Greta Thunberg denunciou as negociações da COP26 como um “fracasso”. Ampliando a pressão, neste mesmo dia foram realizadas réplicas do protesto em 200 cidades do mundo, de Seul ao Rio de Janeiro, passando por Manila, México, Lisboa, Los Angeles e Nairóbi.

Com forte presença da juventude, a concentração em Glasgow começou no Kelvingrove Park, nas proximidades do local onde a COP-26 é realizada, ganhou corpo e deu voz aos que defendem um acordo imediato para limitar o aquecimento global em 1,5 graus neste século.

“O que nós queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora!”, “O povo unido jamais será vencido”, e “A mudança climática é uma guerra dos ricos contra os pobres”, bradava a multidão.

Na sexta-feira (5), a ativista sueca Greta Thumberg havia condenado a postura da cúpula, apontando para o seu naufrágio. A jovem de 18 anos disse que “deveria ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que nos colocaram nela. E mais e mais pessoas estão começando a perceber isso. Muitos estão começando a se perguntar o que é preciso para os detentores do poder acordarem”. “É uma celebração de duas semanas de ‘nada acontece aqui’ e blá, blá, blá”, denunciou Thumberg, frisando que “não se trata mais de uma conferência sobre o clima, é um festival de lavagem de imagens”.

“Esta é a COP26, já tivemos 25 antes e todas foram fracassos”, ressaltou Lilly Henderson, 17, integrante do grupo Fridays for the Future.

Para a diretora do Greenpeace, Jennifer Morgan, está claro que a principal responsabilidade pela emissão de poluentes e gases de efeito estufa é dos países centrais, mais industrializados e que, portanto, devem começar a liberar com urgência os US$ 100 bilhões anuais acordados em 2009 para enfrentar o problema. Morgan destacou que “os países em desenvolvimento precisam de bilhões” para enfrentar as mudanças climáticas.

200 PAÍSES

O encontro, que começou no domingo e vai até a próxima sexta-feira, conta com representantes de quase 200 países. Entre os participantes estão grupos ambientalistas, indígenas, sindicais e feministas. Destacam-se também a presença de Leónidas Iza, da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, e Verónica Gago, da plataforma argentina Ni Una Menos.

A chuva e os ventos fortes atrasaram o início da marcha, convocada pela plataforma da Coalizão COP26, onde faixas e cartazes molhados exigiam “colocar o planeta antes do dinheiro”.

Marchando ao lado de suas duas filhas, Jayne Whitehead, uma paisagista de 54 anos, disse que participava por querer “que elas cresçam com um futuro promissor, que aproveitem o mundo como fazíamos quando éramos jovens e possam olhar para a frente sem medo”. “Um único dia não muda tudo, mas temos que fazer todo o possível e hoje isso é algo que podemos fazer”, apesar da tempestade, acrescentou.

O chefe da COP-26, o ex-ministro britânico Alok Sharma reconheceu que é necessário “ouvir as vozes dos jovens” e “incorporá-los em suas negociações” sobre as mudanças climáticas. O ministro-chefe da Escócia, Nicola Sturgeon, ao lado do enviado do Reino Unido, Nigel Topping, foram alguns dos líderes que receberam as demandas da juventude.

Sharma fez um balanço da primeira semana de reuniões técnicas entre as delegações dos países com o objetivo de chegar a um consenso sobre um pacto global para limitar o aquecimento global a 1,5 grau neste século. Nesse sentido, pediu aos negociadores que encerrem “o máximo de questões possíveis” em vista das reuniões de nível ministerial que ocorrerão na próxima semana.