Ainda que o consumo das famílias represente fatia importante do Produto Interno Bruto (PIB)
do país, o seu desempenho em 2019 foi o mais baixo dos últimos três anos, contribuindo para
o “pibinho” de 1,1% no primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro – também o mais baixo do
triênio.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou o PIB oficial
do país na quarta-feira (4), o consumo das famílias teve variação de 1,8% no ano passado. A
explicação para o resultado ter frustrado quem achava que a liberação do FGTS ia salvar o
consumo, está em um mercado de trabalho que se baseia nas atividades informais, que além
dos baixos rendimentos, não garante estabilidade nenhuma às famílias. Deriva disso os altos
índices de endividamento e de inadimplência e soma-se um custo de vida incompatível com a
realidade da maior parte dos brasileiros.
A liberação de até R$ 1.000 dos saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de
Contribuição (FGTS) não aqueceu o consumo, já que mais de 60% dos que resgataram o fundo
usaram o recurso para o pagamento de dívidas acumuladas (estima-se que 65,1% dass famílias
brasileiras estiveram endividados em 2019). Tampouco as vendas da Black Friday em
novembro ajudaram a levantar as vendas do varejo: naquele mês, houve queda de 0,5% no
comércio ampliado.
O grosso do consumo está nas vendas de alimentos e produtos do dia-a-dia, que se mede pelo
desempenho de vendas em supermercados. A disparada dos preços dos alimentos – vide a
inflação da carne que subiu a ponto de inviabilizar o consumo na reta final de 2019 – foi outro
fator de derrubada do consumo. No ano passado, a variação nos preços da carne bovina foi de
+ 32,4%, sentindo o impacto da política de exportação desenfreada do produto deixando o
consumo interno desabastecido e à mercê dos preços abusivos.
Ao G1, o economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Thiago Berka, afirmou
que as vendas do setor perderam bastante força de 2018 para 2019. Contabilizada em
unidades, as vendas desaceleraram de crescimento de 4,4% para 2,5% no ano passado.
“Nosso índice capta tanto as vendas das grandes redes de supermercados, quanto as dos
mercados de bairros, nas periferias. E, ao consolidar os dados, nós observamos que a crise
ainda persiste, especialmente nos extratos mais baixos da população, diz Berka. Os itens da
cesta básica – que no ano passado consumiam a metade de um salário mínimo – subiu em 16
de 17 capitais no ano passado. Os números são do Dieese: Vitória, +23,64%; Goiânia +16,94%;
Recife + 15,63%; Natal, +12,41%; Rio de Janeiro, +10,75%; Belo Horizonte, +8,86%; São Paulo,
+7,44%.
A ocupação e a renda não acompanharam a alta de preços. De acordo com o IBGE, o
rendimento médio dos brasileiros está estagnado desde o final de 2017, enquanto a inflação

cresce.
A ocupação medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) cresceu em 2019,
mas como já dito, baseada na informalidade. São 38,7 milhões de pessoas no emprego
precário, sem carteira de trabalho e “fazendo bico”– número superior aos empregados com
carteira assinada, de 33,4 milhões – e que representam 41,1% da população que trabalha.
Isso não sobrepõe o desemprego, que a uma taxa de 11,9% na média do ano, continua alta:
são 11,6 milhões de pessoas.
Números da metade do ano de 2019 evidenciaram a diferença entre o rendimento mensal do
trabalhador formal e dos que trabalham por conta própria: R$ 2.169,00 em média para os
primeiros, enquanto para os segundo, R$ 1.312,00. A diferença é de quase R$ 850,00 no mês.
“O que a gente fez, basicamente, foi trocar emprego de maior salário para postos com menor
remuneração. E isso significa menos dinheiro rodando na economia”, disse também à
reportagem do G1 Everton Carneiro, da RC Consultores.