O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse a Bolsonaro que não aceitará ser
chamado de chantagista pelos membros do governo e que a vontade do Congresso é de
manter o acordo firmado com o governo quanto ao “orçamento impositivo”, mas que foi
rompido pelo próprio Planalto.
Alcolumbre faltou à reunião marcada com Bolsonaro na manhã da segunda-feira (2), mas
decidiu participar, na tarde do mesmo dia, de encontro com o presidente a sós e com portas
fechadas.

Segundo o presidente do Senado, o objetivo da reunião foi “externar o descontentamento”
com o ministro [Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)], e com
ataques ao Congresso. “Essas atitudes não serão mais toleradas. O Congresso é independente
e não aceitará ataques à democracia”, declarou.
No último dia 18/2, Augusto Heleno, enquanto esperava Jair Bolsonaro para a cerimônia de
hasteamento da bandeira, em frente ao Palácio da Alvorada, em conversa com os ministros
Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), foi flagrado em áudio
dizendo aos colegas: “Nós não podemos aceitar esses caras chantageando a gente o tempo
todo. Foda-se”.
Foi a senha para que os grupos bolsonaristas se jogassem raivosos contra os parlamentares e
convocassem uma manifestação para o próximo dia 15 contra o Congresso e o Supremo
Tribunal Federal (STF).
Depois de não cumprir com o acordo firmado com o Congresso, Bolsonaro começou a correr
atrás dos presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tentar impedir o
que os parlamentares derrubem integralmente seu veto na questão do Orçamento impositivo.
A votação poderá acontecer na terça-feira (3).
No ano passado, o Congresso aprovou novas regras que obrigam o governo a gastar o que está
previsto no texto orçamentário e impedem com que ele contingencie os recursos de emendas
parlamentares.
Paulo Guedes, que quer passar todo o dinheiro da União para os bancos, não gostou e
Bolsonaro vetou o texto.
O Congresso e o governo acordaram que, para que fosse mantido parcialmente o veto,
Bolsonaro deveria enviar um projeto de lei para retirar das emendas de relator e devolver aos
ministérios 11 bilhões de reais de verbas discricionárias, mas deixaria 20 bilhões de reais para
as emendas. Mas o governo não cumpriu sua parte no acordo, que era enviar um projeto ao
Congresso, o que não aconteceu.
Durante o carnaval, Bolsonaro divulgou, através de seu WhatsApp pessoal, um vídeo de
convocação para uma manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal
(STF), marcado para o dia 15 de março.
Os dois fatos, o ataque de Heleno e o reforço da manifestação por Bolsonaro, somados ao
descumprimento do acordo, provocaram a insatisfação dos congressistas, refletida na
manifestação de Alcolumbre para o chefe do executivo.
Apenas depois de conversar com Bolsonaro, Alcolumbre se reuniu com o ministro da
Economia, Paulo Guedes, e Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, e o senador
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, para discutir sobre o
Orçamento Impositivo.