A morte do dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Pernambuco, Lúcio Monteiro, que em sua trajetória de vida tornou-se símbolo de coragem na luta pela democracia, provocou depoimentos comoventes de comunistas pernambucanos que lutaram ao lado de Lúcio, como Renildo Calheiros e Marcelino Granja.

Para os comunistas, quando um grande companheiro de lutas morre, o exemplo e sua dedicação à luta permanece e inspira ainda mais os camaradas. E essa representação acontece através da mensagem: Lúcio, presente!

O membro do Comitê Central do PCdoB Renildo Calheiros, ex-prefeito de Olinda, recordou a trajetória política de Lúcio. “Era um revolucionário dedicado, destemido e com larga compreensão do processo político”, sublinhou Renildo e contou:

“Era o Ano de 1982.Toda sexta-feira a gente almoçava no restaurante universitário da UFPE e partíamos para a cidade do Cabo. Chegando lá nos juntávamos com Gregorio , Jason, Ana, Alberto e muitos outros militantes da campanha de Lucio Monteiro para prefeito.
Lucio era altamente politizado, avesso ao fisiologismo, sempre abordava as questões tentando elevar o nível de compreensão das pessoas.

Fazíamos reuniões, caminhadas, porta-a-porta, pichações, comícios, colagens e tudo mais.
Foi uma campanha acirrada. Lucio estava filiado numa sub-legenda do PMDB onde também disputava Elias Gomes, o adversário era o ex prefeito Zequinha da Bolacha, muito forte no povão.

A eleição foi resolvida com a soma dos votos das sub-legendas, foi a maneira de derrotar o PDS e Elias ficou a frente de Lucio por 1000 votos aproximadamente. Na época essa vitória foi atribuída a Arraes que na reta final da campanha foi para o Cabo apoiar Elias. Arraes estava com o prestígio em alta.

Lucio nunca se lamentava, era um revolucionário dedicado, destemido, disprovido de sentimentos menores e com uma larga compreensão do processo político.

Lembro bem da casa de Lucio. Ele morava no centro da cidade, por la passavam muitas pessoas e os meninos de Lucio, muito pequenos, ficavam correndo por dentro de casa e pulando em cima das cadeiras. Ele, Lucio, conversando ao lado, tranquilo e sem nenhuma perturbação, não se incomodava com aquele cenário, compreendia que aquelas circunstâncias comportavam todos os personagens. Estas cenas estão gravadas em minha memória como se fossem um filme da Tuca.

Lucio era engenheiro, sempre risonho, mas pode ser considerado economista, professor, filósofo, sociólogo, advogado, contador e outras coisitas mais. Lucio era mesmo um pensador, um guerreiro, um grande humanista.

Lucio tinha um jeito meio distraído, sempre de bem com a vida. Não gostava de brigas e era muito estudioso. Lucio estava sempre onde a gente esperava que ele ia estar.
Junto com Marcelino passei vários fins de semana numa casa que Lucio tinha em Gaibu. Ele era um grande comedor de peixe, comia de todo jeito.

Durante alguns anos morei num apartamento de Lucio na rua Hamilton Ribeiro.

É estranho como a vida nos afasta de pessoas que gostamos tanto. Nos encontrávamos muito pouco ultimamente. Quase sempre nos eventos políticos.

Lucio sempre foi muito respeitado e muito querido. Teve uma trajetória que orgulha todos nós.

Como diz o ditado popular “morre o homem fica a fama”.
Como diz o mais letrado “morre o homem fica sua história”.
Como dizemos nós outros “morre o homem e ficam sua luta e seu exemplo”.
Quem diz melhor são os poetas: “uma estrela não morre, ela se muda para brilhar em outro lugar”.
Grande abraço Lucio Monteiro, foi gratificante aprender com você ao longo de nossa caminhada, foi um “presente” ser seu contemporâneo e seu camarada.

Vamos à luta !
A luta tem que continuar !

Marcelino Granja

Amigo de Lúcio Monteiro, o vice-Presidente Estadual do PCdoB de Permanbuco e secretário estadual de Cultura do estado, Marcelino Granja também prestou uma homenagem ao camarada, abaixo a íntegra do depoimento publicado em suas redes sociais:

“Tenho, como muita gente tem, uma grande dificuldade de compreender o desaparecimento de pessoas muito queridas, principalmente dessas a quem a gente se sente sempre devedor de atenção, por terem marcado nossas vidas com sua presença, ajuda material concreta e na formação de nosso próprio caminho como ser humano, nas opções de vida, etc…

Lúcio Monteiro pra mim é um desses, que se soma ao meu avô Cazuzinha Granja, meus tios Milvernes Granja e Dé Menezes, minha prima Fátima Menezes, aos camaradas Marcelo Medeiros, Gregório Soares, Aldo Gonzaga, Solange Souza e a Angélica Magalhães, primeira esposa de Lúcio, e que se foram tão cedo.

No meio do primeiro semestre deste ano de 1982 o Partido me deslocou para o Cabo, pra ajudar a campanha de Dr. Lúcio para prefeito. Lá passei a viver e atuar de forma permanente. Me liguei à família de Lúcio, casei com sua cunhada Ana Magalhães, fui abrigado em sua casa, fui cuidado por Angélica e Alberto, dividimos as férias das crianças em Gaibú, nos revezando entre os casais para cuidar de uns doze ou treze meninos e meninas. Eu só tinha 22 anos em 82. Em 83 já estava ligado para sempre a Lúcio Monteiro, à sua história política no Cabo e em Pernambuco e à sua família. No Cabo fiquei 4 anos. Alguns anos depois voltei pra mais um. Não tenho dúvidas em afirmar que o período mais importante na minha formação como militante e homem foi entre 1982 e 1985.

Lúcio Monteiro está na minha vida e na minha alma.
Foi camarada, irmão mais velho e um pouco de pai.
Lúcio era o exemplo do homem bom. Tinha todas essas qualidades referidas por Renildo e  Luciano Siqueira. Tinha defeitos, como todos nós. Mas era sobretudo um homem bom. Nada é melhor que isso.
Tenho também essa tristeza de Renildo, de ter ficado distante dele nos últimos anos.

Estou aqui me sentindo preso em Ouricuri. Não pude viajar para seu sepultamento, estamos aqui nas Conferências Regionais de Cultura e contamos com uma equipe enxuta de 18 pessoas em 4 veículos, se eu saísse com um, ficariam alguns colegas sem transporte. Também não consegui um vôo de Petrolina pela manhã deste sábado.

Mas não faço despedidas. Não me despedi nunca dessas pessoas queridas que aqui citei. Não me despeço de Lúcio Monteiro. Ficará comigo enquanto eu estiver vivo.”