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A entidade sindical dos jornalistas do Estado de São Paulo inaugurou, no dia 13 de abril, a Biblioteca Milton Bellintani, com livros doados por dezenas de editoras, autores, livrarias e outros apoiadores, entre os quais a Editora Anita Garibaldi, a Fundação Maurício Grabois e os autores Osvaldo Bertolino, Carlos Seabra, Guiomar Prates e Nivaldo Santana, todos militantes do PCdoB. Além de terem doado suas publicações, os comunistas ajudaram a arregimentar arrecadação entre amigos e organizações nas quais atuam, o que, somado, resultou em cerca de 100 exemplares, evidenciando um esforço para incrementar o total de doações recebidas pela biblioteca, que já contava com 1.500 obras catalogadas.

Diretora do sindicato, Joanne Mota diz que “preservar a memória e o legado das gerações que construíram o sindicato não só fortalece quem está chegando agora, como revela o caráter essencial de entidades como a nossa, que sempre esteve ao lado da categoria e participou das principais lutas democráticas em defesa do país.”

Joanne, que é também presidente do Comitê de Comunicadores do PCdoB na capital paulista, diz ser “uma honra” para a militância da base da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) contribuir com a biblioteca e com o centro de memória que estão surgindo. “Além de ser um passeio pela história, fazemos descobertas incríveis sobre a luta dos trabalhadores”. Luta “que contou, diuturnamente, com a presença de comunistas como o jornalista Astrojildo Pereira e figuras como Pedro Pomar e João Amazonas”. E completa: “Graças às doações da Fundação Maurício Grabois e da Editora Anita Garibaldi, entre muitas outras contribuições, a partir de agora obras históricas produzidas ou organizadas por dirigentes e lideranças do PCdoB vão perfilar nas prateleiras da nossa biblioteca”.

Para o jornalista e escritor Osvaldo Bertolino, essa iniciativa abre um “espaço importante para a valorização do escritor com perfil jornalístico. Nos meus livros há sempre o rigor da apuração para que o leitor seja informado com o máximo de exatidão e possa chegar a conclusões baseadas em múltiplos aspectos dos fatos narrados”. Ele explica que a doação de quatro dos seus onze livros “busca contribuir para a valorização do jornalismo que investiga a história”.

Sueli Scutti, jornalista que integra o Comitê de Comunicadores e o Diretório Centro do partido na cidade, argumenta que essa iniciativa faz coro com a tradição comunista de prezar os livros e a literatura. “Ao longo de 101 anos de existência, o partido teve em suas fileiras escritores de renome internacional, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Oswald de Andrade e Patricia Galvão, a Pagu”. A jornalista, que doou uma publicação da qual foi editora com a memória dos Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio de Janeiro, lembra ainda que nessa trajetória centenária, os comunistas “fundaram editoras, lançaram periódicos e publicaram inúmeros livros, contribuindo para a propagação da leitura, o conhecimento da História e a formação teórica de líderes do povo. Por isso, nada mais natural que colaborar com a biblioteca do sindicato que simboliza a luta pela democracia em São Paulo”.

Coleções de jornais

Diretor da Editora Anita Garibaldi, Claudio Gonzalez diz que “nestes últimos tempos, temos ouvido muitas notícias sobre fechamento de livrarias e bibliotecas, então é reconfortante saber que um novo espaço dedicado à memória, ao livro e à leitura está sendo aberto”. Ele explica que, dos 22 títulos que a editora e a Fundação Maurício Grabois doaram, “selecionamos aqueles escritos por jornalistas e, mais especificamente, obras que dialogam com a trajetória de lutas do sindicato que tem como uma de suas marcas históricas a resistência à ditadura”.

Gonzalez destaca três obras da editora que passam a fazer parte do acervo da biblioteca: a edição fac-similar do “Livro Negro da Ditadura Militar”, primeira publicação a denunciar as atrocidades da ditadura brasileira instalada em 1964; o livro “Marx e os Sindicatos”, lembrando que Karl Marx, além de ter sido um grande filósofo e economista, foi também jornalista; e o livro “A Formação do PCB”, de Astrojildo Pereira, jornalista fundador do Partido Comunista do Brasil em 1922 e que teve destacada atuação na imprensa operária da época.

A Fundação Grabois também doou coleções dos jornais “A Classe Operária” e “Tribuna Operária”, ambos publicados pelo Partido Comunista do Brasil, e também encadernações do jornal “A Voz do Trabalhador”, publicado pela Confederação Operária Brasileira, e do jornal “O Homem do Povo”, criado por Oswald de Andrade e Pagu.

O editor Carlos Seabra, que também faz parte do Comitê de Comunicadores, cedeu dois livros de sua autoria, “Haicais e que tais” e “Antologia de Contos da UBE”, coleção publicada pela Global Editora com grandes nomes da literatura brasileira. Já a jornalista Guiomar Prates doou exemplares de seu livro “Cem Anos dos Comunistas no Movimento Sindical”, lançado em coautoria com o dirigente da CTB e do PCdoB Nivaldo Santana.

O jornalista homenageado

A abertura da Biblioteca Milton Bellintani marcou a comemoração de 86 anos de fundação do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em 15 de abril, e homenageia o jornalista e professor que se dedicou à defesa dos direitos humanos e foi o coordenador da Comissão da Verdade e Justiça do sindicato, incumbida de apurar relatos de crimes da ditadura militar contra trabalhadores da categoria.

Ele morreu em novembro de 2015, antes de ver concluída a publicação do relatório. Mas entre as recomendações da comissão havia um destaque: “Iniciar a montagem de uma biblioteca na sede da entidade com todos os livros de referência sobre o período escritos por jornalistas ou que tenham o jornalismo como objeto de estudo durante a ditadura”.

O presidente do sindicato, Thiago Tanji, afirmou que aquele “é um espaço dos jornalistas, que devem utilizá-lo para fortalecer as lutas da categoria”.

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Por Sueli Scutti
Edição: Bárbara Luz