As bancadas comunistas cresceram também no interior do país

O partido governista Rússia Unida sofreu um importante revés em Moscou nas eleições de domingo (8), em que perdeu um terço das cadeiras no parlamento municipal. De 38 cadeiras, caíram para 25, enquanto na oposição os grandes vencedores foram os comunistas, que aumentaram sua bancada de cinco para 13. Os social-democratas da Rússia Justa ficaram com três. O Yabloko, agremiação que congrega os neoliberais assumidos, ficou com quatro.

Por toda a Rússia, ocorreram eleições de diferentes níveis (regionais e municipais), em 85 entes da Federação, sem maiores incidentes. Mais de 5.000 localidades em disputa, 47 mil mandatos de vários níveis, 16 cargos de governador e 13 parlamentos. Como em 2014, o comparecimento foi de menos de 22%. O comparecimento não é obrigatório.

Nas eleições regionais, o partido do presidente Vladimir Putin se saiu melhor, elegendo no primeiro turno todos os 16 governadores em disputa, inclusive na segunda maior cidade do país, São Petersburgo.

As bancadas comunistas cresceram também, enquanto os populistas do LDPR, liderados por Vladimir Zhirinovsky, obtiveram 34 de 35 cadeiras em Khabarovsk, no extremo leste do país. Os governistas também perderam a maioria em Irkutsk, no leste da Sibéria.

Em Moscou, onde foram maiores as manifestações de repúdio à reforma da aposentadoria e onde nas últimas semanas protestos questionaram a justiça eleitoral, o desgaste era tal que o líder do partido, Andrei Metelsky, na Duma local desde 2001, não conseguiu se reeleger, assim como outros oito parlamentares.

A malsinada ‘reforma’ aumentou em cinco anos a idade mínima para aposentadoria. Já contra Metelsky, pesou a denúncia de que possuiria propriedades luxuosas nos Alpes austríacos. Em decorrência do descontentamento, todos os candidatos governistas concorreram em Moscou como “independentes” e não pela legenda do Rússia Unida.

Outros fatores que explicam tal resultado são as dificuldades econômicas após cinco anos de sanções ocidentais contra a Rússia, além das denúncias de corrupção. Há quem ache que a ação policial contra manifestantes nos recentes protestos na capital russa também contribuiu.

Embora o presidente Putin haja sofrido perdas em sua popularidade, esta ainda é de dar inveja a qualquer líder dos principais países do mundo.

Como salientou Sergei Sobyanin, prefeito de Moscou, candidato à reeleição, foram as eleições mais disputadas da história recente: “as paixões arderam”.

Disputaram vagas na Duma local de Moscou 225 candidatos, de nove partidos. Acusados de não cumprirem a legislação eleitoral, 57 pré-candidatos tiveram seu registro negado, ao que se seguiram semanas de protestos em Moscou. Nos protestos, mais de duas mil pessoas foram detidas, e vários estão sujeitos a processo.

A mídia internacional, que escalou o desconhecido blogueiro Alexei Navalny, de uma hora para outra, – como fez com certo Guaidó – de ‘líder da resistência’ a Putin, está buscando agora apresentá-lo como ‘o grande comandante’ do resultado eleitoral em Moscou.

É verdade que Navalny defendeu nessa eleição como tática para derrotar Putin o voto útil, que chamou de “voto inteligente”, o voto no candidato com mais potencial para derrotar o oponente do Rússia Unida. É possível que em certas áreas abastadas de Moscou isso haja ocorrido, mas seria leviano subestimar o crescimento dos comunistas pelo papel jogado nas lutas recentes.

A deriva de Navalny não foi sem percalços: aliados dele de longa data se recusaram a adotar o procedimento, alegando que votar em comunista era tão ruim (ou quase) quanto votar no pessoal do Putin.

Apesar de posar como ‘combatente da corrupção’ – segundo a Wikipedia “ele denuncia as empresas estatais que, em sua opinião, desviam dinheiro público” -, Navalny é “ficha suja” e ele mesmo não pode concorrer. A mesma fonte o descreve como “ativista político e financeiro”. Nesse peculiar aspecto, Navalny foi condenado em 2013 a cinco anos de detenção por fraudes e desvio de fundos, tendo depois obtido suspensão de pena – o que o “ativista financeiro” assevera não passar de “tentativa de intimidação”.