Comitê de Energia da Rússia garante à Europa todo o gás que precisar
A Europa obterá da Rússia a quantidade de gás necessária para conter a escassez de energia, enquanto os preços do gás inevitavelmente se estabilizarão, disse o chefe do Comitê Nacional de Energia do país, Aleksey Gospodarev, ao portal RT no fórum da Semana da Energia Russa.
“Haverá tanto gás quanto necessário. Como [o presidente russo Vladimir Putin] enfatizou mais uma vez, nunca negamos gás a ninguém”, disse Gospodarev, observando o paradoxo de que muitos temem que a Rússia possa usar o gás como alavanca contra seus oponentes, embora “isso nunca tenha acontecido na história.”
“Como garantiu o presidente, ninguém vai congelar. Será fornecido tanto gás quanto necessário”, acrescentou o funcionário.
Gospodarev prevê que os preços do gás irão se estabilizar, observando que todos os especialistas pensam da mesma forma.
No entanto, sublinhou, a estabilidade está nos contratos de longo prazo, enquanto as negociações no mercado spot de energia são altamente voláteis – isto é, sujeitas à especulação pura e simples.
“A Europa moveu-se deliberadamente para a precificação de mercado na esfera do gás, em direção ao chamado mercado spot. Aqui está o resultado, já que há muitas incógnitas na formação desse preço … uma combinação de fatores difíceis de prever levou a esse salto”, observou Gospodarev, em relação à abusiva escalada de preço do gás na Europa.
“A Europa quer formar um mercado spot – a mão invisível do mercado deve alinhar e determinar os preços, mas, como disse o presidente [Putin], é do gás que estamos falando. É um produto mais complexo que é a base de toda a economia”, disse o chefe do comitê russo de energia.
Os contratos futuros do gás de novembro no hub TTF na Holanda foram negociados em torno de US $ 1.200 por mil metros cúbicos na quinta-feira, após atingir o maior recorde de US $ 1.937 na semana passada.
“Acredita-se que o salto dos preços foi impulsionado por ações especulativas. Nenhuma economia se beneficiará com isso”, acrescentou.
Já os contratos de longo prazo – que são os que a estatal Gazprom negocia – são, como Gospodorov classificou “outra questão”. São acordos que estabelecem “um teto nos preços” pelos quais os países compram gás russo. São preços que são significativamente menores do que os resultantes das atuais manipulações especulativas.
“Se você consegue prever os preços dos principais produtos energéticos no longo prazo – que são a base para a formação do PIB do país – é quando você vai poder dar forma à sua política de investimentos e não depender de oscilações de preços”, enfatizou o dirigente russo.
Os especuladores do mercado spot se aproveitaram de que, por um lado, houve uma baixa inesperada na geração de energia renovável na Europa e um aumento de consumo de gás (tanto pelo fato da retomada da economia com o controle da pandemia como a ocorrência de uma primavera mais fria), o que contribuiu para esvaziar as reservas.
Com as notícias de que os burocratas de Bruxelas pretendiam empurrar a entrada em operação do Nord Stream 2 por até quatro meses, inverno a dentro, e ainda só podendo usar metade da capacidade, os especuladores nos mercados de futuro de energia fizeram a festa, enquanto os russófobos faziam mais uma cruzada contra o “gás russo”, sem que o gás de fracking norte-americano estivesse disponível, e com os grandes produtores de gás voltados para atender à crise de energia na Ásia.
Bruxelas vem tentando submeter o NordStream 2 àquele pacote de regras segundo o qual quem fornece o gás não pode ao mesmo tempo ser o dono do gasoduto, e só pode usar metade da capacidade.
Como disse Putin, nem no auge da Guerra Fria Moscou deixou a Europa sem gás. A própria primeira-ministra alemã, Angela Merkel, – o novo governo ainda não foi formado – reconheceu que a Rússia vem cumprindo integralmente os contratos de fornecimento de gás que existem.
A Rússia inclusive garantiu que continuará usando o ramal via Ucrânia para entrega de gás, conforme o contrato que vigora até 2024, apesar do custo ser maior por ali do que pelos demais ramais que direcionam o gás russo até os europeus.