Washington Post: “o que ocorreu no primeiro debate estimula a percepção de um país em declínio" | Foto: Patrick Semansky/AP

Após a Comissão de Debates Presidenciais, organismo bipartidário que tradicionalmente organiza os debates nas eleições nos EUA desde 1987, anunciar mudanças para “garantir uma discussão mais ordeira” e evitar o tumulto visto na última terça-feira, o presidente bilionário foi ao Twitter, aliás horas antes de ser diagnosticado com Covid, para rechaçar as alterações.

Apesar das pesquisas entre os espectadores do debate terem dado a vitória ao democrata Joe Biden, por boa margem, no Twitter Donald Bush postou que: “Por que eu permitiria que a Comissão de Debates alterasse as regras para o segundo e o terceiro debates quando ganhei facilmente da última vez?”

A comissão – que foi co-fundada há mais de três décadas por ex-presidentes dos dois principais partidos norte-americanos e é amplamente tida como um árbitro imparcial na organização dos debates presidenciais – anunciou que iria acrescentar “estrutura adicional” para assegurar que o debate flua. Ou seja, ao invés do total atropelo de Trump às normas, ao tempo, ao moderador e ao oponente, visto no primeiro debate.

Em seu site, a Comissão de Debates Presidenciais se descreve como “uma organização independente” que “não é controlada por nenhum partido político ou organização externa” e não “endossa, apoia ou se opõe a candidatos ou partidos políticos”.

Conforme o testemunho do moderador do primeiro debate, o âncora da Fox News, Chris  Wallace, Trump “fala, fala, fala. Ele tem zero consideração pelas regras. Ou outras pessoas. Ou polidez. Ou ao responder a perguntas”.

Era tal o desrespeito de Trump, que em certa hora, Biden precisou apelar para um “cala boca, cara”.

A quarentena a que Trump está sendo submetido por causa do coronavírus deverá forçar o reescalonamento, se não o cancelamento – de pelo menos o segundo debate presidencial, marcado para 15 de outubro em Miami, Flórida.

O gerente de campanha de Trump, Bill Stepien, repeliu qualquer trava ao destempero e falta de decoro do chefe. “Esta é a América. Todos são livres para doar ao candidato de sua escolha, todos são livres para apoiar o candidato de sua escolha, mas uma organização que não é apartidária não deveria fingir ser”, afirmou.

Stepien acrescentou ” sinceramente esperar” que esses membros [da Comissão] “deixem de lado suas crenças e ações partidárias anti-Trump” enquanto “damos os próximos passos em direção ao debate em Miami em apenas algumas semanas.”

Jason Miller, conselheiro sênior de Trump, chamou os membros da Comissão de “monstros permanentes do pântano” e comparou-os a Biden.

A Comissão de Debates Presidenciais é supervisionada por Frank Fahrenkopf, que atuou como presidente do Comitê Nacional Republicano no governo do ex-presidente Ronald Reagan.

A liderança da organização também inclui Dorothy Ridings, ex-presidente da Liga das Eleitoras, e Kenneth Wollack, ex-presidente do Instituto Democrático Nacional. A organização foi co-fundada por Fahrenkopf e Paul Kirk, um ex-presidente do Comitê Nacional Democrata.

O deplorável debate entre Trump e Biden, em que o presidente bilionário interrompeu a fala do oponente de forma constante, trocou acusações e insultou o desafiante democrata, repetiu mentiras, culpou o “vírus chinês” pela pandemia e até incitou uma milícia supremacista branca, causou espanto no mundo inteiro pela atual situação no mais rico e armado país do mundo.

O que o Washington Post registrou sob o título  “’luta na gaiola’ de Trump-Biden estimula a percepção global de um país em declínio, atolado no caos”. Como observou em editorial um jornal suíço de tendência de direita – a apresentação também é do Post – “o debate rancoroso reflete um país que não é mais capaz de ter uma discussão digna”.

O único debate entre candidatos a vice-presidente, programado para a próxima quarta-feira em Salt Lake City, deverá ser mantido: Mike Pence deu negativo para Covid-19 na manhã de sexta-feira, de acordo com seu escritório.