Comer carne bovina continua difícil para o brasileiro; preços disparam
Os elevados preços da carne bovina continuam puxando para o alto os custos das proteínas mais baratas, como frango e ovo, que voltaram a bater recordes nas gôndolas dos supermercados.
Na quarta-feira (16), uma semana atrás, 1 kg de carne bovina custava, em média, R$ 51,55 no varejo paulista, segundo a Scot Consultoria. Valor 26% mais caro do que o pico atingido em meados de março de 2021.
A carne bovina neste patamar se tornou um artigo de luxo para boa parte da população, que sofre com uma elevada taxa de desemprego, atingindo 12 milhões de brasileiros, e com o esmagamento da renda.
O aumento do preço da carne bovina foi a maior expressão da disparada nos preços dos alimentos que se espalhou para um conjunto de produtos básicos na alimentação do brasileiro, como o feijão, o arroz e o óleo de soja, no governo Bolsonaro.
No ano passado, foram inúmeras as imagens de famílias em filas de açougues para receber doações de ossinhos para preparar um refeição para os filhos. A extrema pobreza atingiu 20 milhões de brasileiros e mais de 100 milhões vivem a insegurança alimentar.
Segundo estudo da Embrapa, em 2020, o rebanho bovino do Brasil era o maior do mundo, assim como o país foi o maior exportador de carnes do planeta, no primeiro ano da explosão da pandemia da Covid 19. Mas faltou carne na mesa do brasileiro. Na era Bolsonaro, a carne bovina brasileira está no rol da carestia das carnes mais caras da América do Sul.
Um estudo da Numbeo, organizado pela plataforma de descontos Cuponation, divulgado pelo Valor Econômico, mostrou que o município de São Paulo ocupa o terceiro lugar entre as cidades com a carne bovina mais cara na América do Sul. Quando o levantamento foi divulgado, no começo de março, o quilo foi estimado em R$ 45,03 pela plataforma, atrás apenas dos R$ 49,75, em média, cobrados em Santiago, no Chile, e dos R$ 45,88 de Montevidéu, no Uruguai.
A pesquisa considerou dados de 26 cidades sul-americanas. Florianópolis apareceu em quarto lugar, com R$ 43,54, e o Rio de Janeiro, em quinto (R$ 43,42), seguidas por Porto Alegre (R$ 42,89), Brasília (R$ 42,49) e Campinas (R$ 42,23). Completavam a lista das dez primeiras Paramaribo (Suriname), com R$ 41,46, e Lima (Peru), com R$ 40,40.
No atacado, a indústria de carne bovina elevou os preços em 0,1%, para R$ 33,03, na última semana, para melhorar suas margens operacionais, em meio à alta dos custos. Assim, ficou 9,3% abaixo em relação a dezembro, mas 14,5% acima no comparativo anual.
Já a arroba do boi, por sua vez, avançou 11,5% nos últimos 12 meses e chegou a R$ 335 na quarta-feira. Frente a dezembro, a arroba está 7,4% mais cara. Também houve aumentos de custos nas embalagens e na logística, puxados pelos altos custos do petróleo e seus derivados no mercado internacional.
Segundo o IBGE, o país abateu 27 milhões de cabeças de bovinos em 2021, menor volume desde 2004. Mesmo com um menor volume de abate, a exportação total de carne bovina brasileira em 2021 (incluindo produtos in natura e processados) registrou crescimento de 9% na receita em comparação com a movimentação de 2020. O faturamento subiu de R$ 48,4 bilhões (US$ 8,485 bilhões) em 2020 para R$ 52,6 bilhões (US$ 9,236 bilhões) em 2021, graças à elevação do preço do produto nos mercados internacionais.
No ano passado, o volume de embarques foi de 1.867.594 toneladas, uma queda de 7%, se comparado com o ano de 2020, em que o Brasil bateu recorde na exportação de carne (2.016.223 toneladas).
OVOS E FRANGO
O alto custo da carne puxa para cima os preços das proteínas mais baratas, tornando mais difícil ainda a vida das famílias de baixa renda e daquelas que figuram na linha da miséria.
Segundo a consultoria Safras & Mercado, o quilo da carne de frango tem sido vendido no atacado, em média, a R$ 7 neste mês, aumento de 0,7% em comparação com dezembro e de 16,3% em relação a março do ano passado.
O ovo, que é a principal proteína usada pelas famílias carentes como substituto das carnes, também subiu na última semana. O tipo branco teve média de R$ 145,38 na semana passada, um recorde, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.