Indígena vota em Quito. Drástica redução dos votos dessa comunidade influiu a favor de Lasso

O banqueiro Guillermo Lasso venceu no domingo (11) o segundo turno das eleições presidenciais no Equador. Com 98% das urnas apuradas, com 52,5% dos votos derrotou Andrés Arauz, que tinha o apoio do ex-presidente Rafael Correa.

O número sem precedentes de votos nulos (16%), resultado da pregação neste sentido do indígena Yaku Perez, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, ajudou Lasso a vencer no segundo. No primeiro turno, os votos nulos ficaram em 9,5%

Lasso – que já havia ficado em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2013 e 2017 – defende políticas neoliberais na economia, como redução da dívida pública e privatização de empresas estatais, além de facilitações para atrair investimentos estrangeiros. Porém, durante a campanha, também prometeu aumentar o salário mínimo e acelerar a vacinação contra a Covid-19, problema que assola o país.

O presidente eleito foi o segundo colocado no primeiro turno, realizado em fevereiro, mas aproveitou a alta rejeição a Correa, que governou o país de 2007 a 2017, puxando o apoio de vários setores do centro político.

“Este é um dia histórico, um dia em que todos os equatorianos decidiram seu futuro, manifestaram com seu voto a necessidade de mudança e o desejo de melhores dias para todos”, disse Lasso perante seus seguidores reunidos em Guayaquil, onde vive.

Arauz, seu oponente, que havia sido assessor de Rafael Correa, e antes da campanha era desconhecido pela população, propunha políticas mais progressistas como aumentar os impostos sobre os mais ricos e buscar a renegociação da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele reconheceu a derrota no domingo.

“Hoje chegou a hora de avançar, temos que construir pontes, este é um revés eleitoral, mas de forma alguma uma derrota política e moral, porque o nosso projeto é de vida. Vou telefonar para o senhor Guillermo Lasso, vou parabenizá-lo pela vitória eleitoral obtida hoje, e vou mostrar-lhe nossas convicções democráticas”, afirmou Arauz.

“Os mais de quatro milhões de votos que hoje me acompanham são um mandato, um compromisso de defesa de políticas que apoiem e promovam a justiça social, a dignidade, a educação e a saúde pública. Com toda a nossa força política e legislativa estaremos atentos a qualquer tentativa de utilizar o Estado em benefício de uns poucos privilegiados, estaremos, como sempre fizemos, defendendo as grandes maiorias”, assinalou.

Diversos analistas políticos avaliaram a eleição equatoriana como uma batalha entre apoiadores de Correa e seus adversários. O ex-presidente foi condenado em abril de 2020 a oito anos de prisão por corrupção, através de um esquema que favorecia empresas em licitações e envolvia a empreiteira brasileira Odebrecht. Ele vive na Bélgica e é considerado foragido pela Justiça equatoriana.

Correa, apesar de lançar uma política distributiva que resultou em melhora nas condições de vida do povo, não conseguiu promover a economia com bases nas forças produtivas locais e manteve o dólar como moeda dominante no país.

O final de seu governo foi marcado por escândalos de corrupção, em especial envolvendo a Odebrecht, após abertas as portas pelo ex-presidente Lula e articuladores próximos, passava a subornar lideranças locais que entregavam contratos bilionários à empreiteira. Levantamentos realizados somente no Equador levaram a Justiça local a exigir dos condenados a repatriação de 33,5 milhões de dólares a título de reparação ao Estado. Jorge Glas, vice-presidente do Equador no governo de Rafael Correa e reeleito para o cargo na chapa presidida por Lenín Moreno, foi preso na época.

Lasso sucederá em 24 de maio a Lenín Moreno, que hoje tem alta rejeição popular. Em 2019, muitas manifestações estouraram no país após ele cortar subsídios a combustíveis como parte de um acordo firmado com o FMI. Houve bloqueios de rodovias, toque de recolher, e sete pessoas morreram durante os protestos.

A abstenção em larga margem pela população indígena, que no primeiro turno votou em peso no candidato Yaku Perez, foi importante para a vitória de Lasso. Um dos principais focos de oposição ao que lá é conhecido como ‘correísmo’ desde o tempo em que Correa era presidente, a Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie), ficou dividida entre apoiar Arauz e defender a abstenção. O resultado é que um em cada seis eleitores se abstiveram.

O Equador é hoje pressionado por uma alta dívida, que soma quase US$ 64 bilhões (R$ 360 bilhões), ou 63% do seu PIB, dos quais US$ 45 bilhões (R$ 255 bilhões) são devidos a credores externos. O PIB do país encolheu 7,8% em 2020, durante o primeiro ano da pandemia.

Além disso, Lasso terá dificuldade em sua relação com o Congresso. Seu partido, o Criando Oportunidades (Creo), terá poucas cadeiras e precisará negociar acordos com o partido de Arauz, União pela Esperança (Unes), o mais votado para o Legislativo, e com o partido indígena Pachakutik, o segundo mais votado.

Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, houve uma participação de 71,35% dos cerca de 13,1 milhões de eleitores convocados para votar em meio ao aumento dos casos de covid-19 – atualmente em mais de 346 mil infecções e 17.300 mortes – e uma vacinação lenta.

A economia do país já estava fraca em razão dos preços baixos do petróleo, insumo que o país exporta, quando começou a pandemia de coronavírus. A situação sanitária levou um terço da população à pobreza e deixou meio milhão de pessoas desempregadas.

O presidente eleito, de 65 anos, agora terá que encontrar maneiras de relançar uma economia estagnada enquanto usa a mesma cartilha pró-mercado do presidente Lenín Moreno.

Para garantir qualquer recuperação econômica, Lasso dependerá de uma reestruturação da paralisada campanha de vacinação Covid-19 do país, que tem sido atormentada por alegações de nepotismo e uma porta giratória de ministros da saúde que renunciaram ou foram demitidos.