A situação política do governo federal chegou a um ponto tão crítico que não há uma visita de Bolsonaro que não seja recebida com protestos e manifestações. Esta semana, na Basílica de Aparecida do Norte, em São Paulo, em pleno Dia da Padroeira do Brasil, Bolsonaro recebeu vaias em sua chegada e um verdadeiro sermão de Dom Orlando Brandes, arcebispo do santuário, em sua homilia. Os protestos são reflexos de uma situação socioeconômica que coloca o Brasil no mapa de uma degradação social que atinge a vida de milhões de brasileiros.

Por Wadson Ribeiro*

O veto do presidente ao projeto que previa a distribuição gratuita de absorventes para as estudantes das escolas públicas, moradoras em situação de rua, presidiárias, entre outras mulheres em situação de vulnerabilidade, ilustra as opções adotadas por esse governo, sempre voltadas aos interesses dos mais ricos e relegando a segundo plano as demandas da população mais pobre. Governar é fazer escolhas e, definitivamente, as de Bolsonaro não são na direção dos mais necessitados. Para ele, não importa se a pobreza menstrual possa significar infecção urinária, problemas nas tubas uterinas, podendo ocasionar infertilidade, ou mesmo problemas de saúde mental às mulheres ou a evasão escolar de meninas. O que importa é ficar de joelhos diante dos interesses dos mais ricos e impossibilitar qualquer política social que torne o país mais justo, mesmo em situações básicas como o direito das mulheres à higiene menstrual.

Sob o governo Bolsonaro, a pobreza voltou a atingir milhões de pessoas. Com uma política econômica draconiana, o dólar extrapolou a casa dos R$ 5,00 e o agronegócio tem aumentado ainda mais seus lucros, exportando para outros países o grosso de nossa produção e fazendo com que a inflação chegue a dois dígitos, feito inédito desde o plano real, em 1994. O aumento do preço dos alimentos como a carne, o óleo de cozinha, o açúcar, o arroz, somam-se ao aumento do gás, da gasolina e do diesel, gerando uma verdadeira avalanche que tira de grande parte da população a segurança alimentar. De acordo com matéria veiculada no jornal francês Le Monde Diplomatique, no último dia 12 de outubro, o Brasil tem hoje 60 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, com 20 milhões de pessoas passando fome. Além disso, Bolsonaro e Paulo Guedes não conseguem fazer o PIB crescer e o desemprego bate recorde atingindo mais de 14%, com milhões de outros trabalhadores na informalidade e em condições precárias de trabalho.

Contudo, mesmo diante do aumento da pobreza, o governo demonstra inerte e as políticas adotadas no âmbito da Educação, da Cultura, da Ciência e Tecnologia e de outras áreas vitais do Estado brasileiro representam um verdadeiro desastre para o presente e o futuro do país. A evasão escolar, fruto da pandemia, soma-se aos cortes de verbas para a educação básica e superior, o que a médio e longo prazos aprofundarão as desigualdades no país. Somente na Ciência e Tecnologia, o governo cortou R$ 600 milhões do ministério, comprometendo projetos como o Centro Nacional de Vacinas, em parceria com o governo de Minas e com a UFMG. Programas de moradia popular, saneamento básico e mobilidade urbana foram praticamente paralisados. Nos ministérios são poucos os programas governamentais. O orçamento da União passou a ter forte influência dos deputados e dos senadores do Centrão em sua execução, sem qualquer debate estratégico, fruto de planejamentos plurianuais ou conferências temáticas.

A insensibilidade social, aliada à incompetência de gestão e o desgoverno na política econômica, estão jogando cada vez mais os brasileiros para a linha da pobreza. Infelizmente, além do genocídio causado pela irresponsabilidade de Bolsonaro diante da pandemia, o aumento da miséria, esboçada em uma população que passou a consumir osso e a passar fome, são as marcas principais desse momento obscuro que o país atravessa.

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*Presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

(Artigo publicado originalmente no portal Hoje em Dia)

 

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