Acompanhado dos seguranças e de seus filhos, Bolsonaro cumprimentou apoiadores sem uso de máscara incentivando as aglomerações que estavam proibidas no estado

Com hospitais lotados e o número de vacinas insuficiente para imunizar a população mais vulnerável na pandemia de Covid-19, o sistema de saúde de Santa Catarina entra em colapso após as aglomerações registradas no carnaval.

As informações foram divulgadas pelo secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, que em ofício encaminhado aos 295 secretários municipais de saúde alertou a situação e apontou a dificuldade para a manutenção dos estoques de insumos, principalmente os relacionados aos “kits intubação”.

“Preciso informar a todos que a situação da pandemia deteriorou no Estado todo e, a exemplo do que acontece nas regiões mais a Oeste, estamos entrando em colapso! Todos os esforços de Estado e municípios, até então, são insuficientes em face à brutalidade da doença”, anotou o secretário.

“Infelizmente, percebe-se fenômeno similar no resto do país. Solicito aos gestores municipais que tomem medidas emergenciais para diminuir significativamente a circulação das pessoas, mantendo apenas serviços essenciais e que convoquem toda a força de trabalho da Saúde para o enfrentamento. Estamos mobilizados para fazer todo o possível para diminuir sofrimentos impostos às pessoas, mas a força e gravidade deste momento estão suplantando o resultado das nossas ações”, disse André Motta Ribeiro, em sua mensagem.

O ofício encaminhado aos 295 secretários municipais de saúde chama a atenção para o risco do desabastecimento. Ele destaca o oxigênio e os equipamentos de proteção individual.

“Solicito aos gestores municipais que tomem medidas emergenciais para diminuir significativamente a circulação das pessoas, mantendo apenas serviços essenciais e que convoquem toda a força de trabalho da Saúde para o enfrentamento”, pediu o secretário estadual aos gestores municipais.

No início da tarde de quinta (25), 83 pacientes aguardavam por leitos de UTI, segundo dados internos da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Desde março, ao menos 652,8 mil pessoas tiveram diagnóstico positivo para Covid-19, e 7,1 mil morreram.

Em coletiva de imprensa, o médico Vinicius Chies de Moraes, que coordena o setor de emergência e o da UTI-Covid no Hospital Regional São Paulo, em Xanxerê, afirmou que difícil decisão de escolher quem será intubado já é uma realidade.

“A situação é desesperadora. E não é uma situação que está por acontecer, ela já aconteceu, e está acontecendo. Nós teremos mortes em grande escala”, disse.

Para conter o avanço da pandemia, o governador Carlos Moisés (PSL) determinou medidas mais restritivas a partir de agora. O funcionamento de serviços não essenciais ficará suspenso das 23h de hoje até às 6h de segunda-feira (1º). A medida também vale para o próximo final de semana. O lockdown começará às 23h da sexta-feira (5) e termina às 6h de segunda-feira (8).

Além disso, o governo do Estado publicou um decreto com novas restrições em praias, ônibus, academias, casas noturnas e outras atividades. As medidas anunciadas nesta quarta (24) serão válidas por 15 dias em todo o Estado, de segunda a sexta.

Carlos Moisés prometeu esforços para ampliar a capacidade da rede hospitalar, garantir a distribuição de vacinas e assegurar a fiscalização das atividades. Mas também pediu ajuda da população.

“Não medimos esforços para proteger a vida dos catarinenses. Fizemos e continuamos fazendo tudo ao nosso alcance. O novo quadro que se apresenta é extremamente grave, e por isso, é fundamental que o Governo do Estado tome medidas ainda mais duras, pois o que importa é preservar a vida dos catarinenses”, disse o governador.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Moisés afirmou que “não há solução viável sem a colaboração de todos. O respeito às regras é o caminho mais curto e seguro para que a normalidade seja restabelecida.

Motta Ribeiro avaliou as novas medidas como fundamentais para conter o avanço da doença. “Estamos no momento mais crítico da pandemia em Santa Catarina. Precisamos que todos entendam e façam a sua parte evitando aglomerações e seguindo os protocolos sanitários. Os municípios, entendendo a peculiaridade local, podem adotar medidas até mais restritivas, para reforçar este movimento do Estado”, afirmou o secretário de Saúde.

Aglomerações

Apesar do que recomendou o governador e o secretário de Saúde, durante o período do carnaval, enquanto todos os gestores recomendavam a suspensão do feriado, Jair Bolsonaro tirou férias e foi ao estado para promover diversas aglomerações.

Na chegada a Santa Catarina, Bolsonaro cumprimentou apoiadores que se aglomeraram para vê-lo. Ele foi chamado de “genocida” por uma manifestante que estava no local e as imagens foram transmitidas nas redes sociais.

Bolsonaro visitou a praia de São Francisco do Sul e promoveu uma aglomeração de apoiadores. Ele chegou à orla de moto aquática e, sem máscara, cumprimentou apoiadores.