Com juros altos e carestia, brasileiros compram menos carros
Com as sucessivas elevações das taxas de juros pelo Banco Central encarecendo o crédito e a carestia diminuindo o poder de compra da população, o setor de automóveis e veículos comerciais leves encerrou o primeiro semestre de 2022 em retração: os emplacamentos fecharam o semestre com uma queda acumulada de 15,04% em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), de janeiro a junho deste ano, foram emplacados 851.144 automóveis e veículos comerciais leves ante 1.006.610 nos seis primeiros meses de 2021. Também os emplacamentos de ônibus e caminhões sofreram ligeira retração no mesmo período comparativo, de 1,23%, caindo de 67.327 para 66.498, apesar de já estar desanuviando o problema de peças enfrentado pela indústria, o que significa que a demanda continua baixa.
Os dados refletem as dificuldades de recuperação da indústria brasileira, diante do desempenho fraco da atividade econômica no governo Bolsonaro. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) sofreu expansão abaixo das expectativas dos analistas, de 1,7% no primeiro trimestre de 2022 em relação aos três primeiros meses de 2021, a produção industrial amargou um recuo de 1,5% na mesma base de comparação.
Fixada em 13,25% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a atual taxa de juros básica do país, a Selic, é a mais elevada desde dezembro de 2016 e tem efeitos perversos sobre a atividade econômica, em um momento em que o país ainda tem quase 11 milhões de pessoas desempregadas. Além disso, esta política vem se mostrando ineficaz no controle da inflação: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) remanesce acima de dois dígitos em 12 meses.
Em consequência da queda no nível de renda da população, os brasileiros passaram a optar pela compra de motocicletas em vez de carros, já que os veículos de quatro rodas, além de custarem mais caro, pesam mais no bolso na hora de encher o tanque. No primeiro semestre de 2022, os emplacamentos de motos apresentaram alta de 23,07% em relação aos seis primeiros meses de 2021, subindo de 517.326 para 636.698. O aumento nos emplacamentos de motocicletas, contudo, não foi suficiente para superar a retração nos de automóveis e os emplacamentos como um todo encolheram 3%.
As vendas de veículos seminovos e usados também apresentaram retração no mesmo período, de 18,2%. Segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), o acumulado de veículos comercializados ficou em 6.027.351 unidades contra 7.367.947 no primeiro semestre de 2021, tendo havido em junho queda em todos os segmentos: motos (-6,4%), comercial pesado (-1,7%), automóveis (-0,8%) e comerciais leves (-0,7%).