Comida servida em restaurante em Brasília.

Com a inflação acelerada e a queda da renda da população pesando sob a economia, o setor de serviços continua patinando. De acordo com os dados do IBGE, divulgados nesta terça-feira (14), o volume de serviços prestados no Brasil variou apenas 0,2% em abril, na comparação com março.

Após encerrar dezembro do ano passado em +2,7%, com a retomada das atividades presenciais, o setor levou um tombo em janeiro deste ano de -1,6%; em fevereiro, ficou negativo em -0,1%; em março, teve leve alta de +1,4% e, em abril, ficou em +0,2%, na comparação mês a mês.

“Assim como a indústria, o setor de serviços começou o segundo trimestre de 2022 praticamente estagnado. Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que seu faturamento real variou somente +0,2% na passagem de mar/22 para abr/22, já descontados os efeitos sazonais. A maioria de seus ramos ficou no vermelho”, assinalou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Em abril, a variação positiva no setor de serviços foi concentrada em duas das cinco atividades investigadas pelo IBGE, informação e comunicação (0,7%) e serviços prestados às famílias (1,9%). transportes (-1,7%), profissionais, administrativos e complementares (-0,6%), e outros serviços (-1,6%) registraram retrações no mês.

Carestia

O gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), Rodrigo Lobo, destaca que  “os serviços prestados às famílias são aqueles ainda com o maior distanciamento em relação ao pré-pandemia (-9,6%). E algumas das pressões que seguem ocorrendo nessa atividade, ainda que ela tenha crescido no mês de abril, claro, têm a ver com o processo inflacionário.

Já a inflação “atua na pesquisa de serviços, tanto de maneira direta, como eventuais aumentos de preços de serviços de alimentação fora do domicílio que acabam pressionando negativamente o volume de receita de restaurantes”, disse Lobo sobre os efeitos diretos da inflação no setor.

Em abril, ainda, o volume de transporte de passageiros no Brasil registrou avanço de 2,3% e do transporte de cargas decresceu 0,1%, ambos frente ao mês imediatamente anterior. Já as atividades turísticas cresceram 2,5% no período. No entanto, o segmento ainda se encontra 3,4% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.

Resultado por segmentos em abril:

1Serviços prestados às famílias: 1,9%

  • Serviços de alojamento e alimentação: 3,9%
  • Outros serviços prestados às famílias: -5%

2Serviços de informação e comunicação: 0,7%

  • Serviços de tecnologia da informação e comunicação (TIC): 0,2%
  • Telecomunicações: 0,0%
  • Serviços de tecnologia da informação: 2,4%
  • Serviços audiovisuais: -3,1%

3Serviços profissionais, administrativos e complementares: -0,6%

  • Serviços técnico-profissionais: -2,3%
  • Serviços administrativos e complementares: 1,1%

4Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: -1,7%

  • Transporte terrestre: 0,5%
  • Transporte aquaviário: 3,7%
  • Transporte aéreo: -2,4%
  • Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: -5,9%

5 Outros serviços: -1,6%

Economia estagnada

Com a inflação generalizada dos preços, a queda vertiginosa da renda da população e o alto custo do crédito – puxado pelo aumento das taxa básica de juros (Selic) -, outros setores da economia também obtiveram resultados fracos no mês de abril.

Com 33 milhões de brasileiros sem comida, não há setor que aguente, nem serviços, nem vendas do comércio e nem a indústria. São milhões sem renda, desempregados, com os preços dos alimentos, do gás de cozinha, da conta de luz explodindo, corroendo o já minguado orçamento das famílias.

O comércio varejista brasileiro também patinou no mês de abril.  As vendas do setor subiram 0,9%, em abril ante março. Destaca-se que, dos 10 ramos pesquisados pelo IBGE, 6 ficaram no vermelho, inclusive alguns dos mais importantes, como veículos e autopeças e supermercados, alimentos, bebidas e fumo.

Outro dado péssimo de abril foi o da indústria. A produção industrial variou em alta de apenas 0,1% na comparação com março. No ano, a indústria acumula queda de -3,4%.

O setor industrial ficou no vermelho em 10 das 26 atividades investigadas. Entre os destaques, produtos alimentícios (-4,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,2%), máquinas e equipamentos (-3,4%), outros equipamentos de transporte (-8,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-3,6%), metalurgia (-1,2%), e produtos do fumo (-12,0%).

Cabe também ressaltar as quedas na produção de  eletrodomésticos (-25,2%) e  móveis (-13,1%) e da indústria automobilística (-7,4%) na comparação anual. Estes segmentos da indústria dependem fortemente do crédito, que está mais caro com o aumento expressivo da taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,75% ao ano.