Com inflação e renda em queda, endividamento é recorde em março
Com a disparada da inflação e a renda desabando, milhões de brasileiros acabam se endividando cada vez mais para recompor a renda. O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,5% em março, um recorde na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada na quinta-feira (31). Essas dívidas são com o cartão de crédito, cheque pré-datado, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
A pesquisa aponta também que as famílias com dívidas e/ou contas atrasadas alcançaram o maior percentual desde janeiro de 2010, 27,8% do total de lares no país.
Já a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que permanecerão inadimplentes aumentou de 10,5% para 10,8% do total de famílias.
“A inflação alta, persistente e disseminada mantém elevadas as necessidades de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para manter seu nível de consumo. O cartão de crédito é o tipo de dívida mais procurado pelos consumidores”, analisou a CNC, que destaca que 20,9% das famílias endividadas encerraram o trimestre com mais de 50% da renda comprometida com dívidas, o maior percentual desde agosto de 2021.
JUROS EXTORSIVOS
Com aval do governo Bolsonaro, o Banco Central elevou a taxa básica de juro a 11,75% ao ano, no maior arrocho monetário desde abril de 2017. A decisão prejudica toda a economia, do setor produtivo ao consumidor final, particularmente aqueles que precisam recorrer ao crédito para recompor a renda e pagar contas básicas.
Considerando os tipos de dívida, o cartão de crédito segue como o vilão absoluto, representando 87% do total de famílias endividadas no país.
De acordo com a CNC, os juros médios cobrados no cartão, em todas as três modalidades, chegaram a 67% em janeiro, segunda maior taxa média entre todos os tipos de dívida, atrás apenas do cheque especial (128% ao ano).
A Confederação destaca ainda que nas operações parceladas e no crédito rotativo, “os juros anuais médios tiveram as maiores altas, 10 e 16 pontos percentuais, respectivamente, chegando a 172% ao ano e, no rotativo, 346% ao ano, em média”.
“A continuação do encarecimento do crédito e a fragilidade apontada no mercado de trabalho devem seguir afetando a dinâmica da inadimplência das famílias nos próximos meses, em que, entre as de menor renda, os dois indicadores de inadimplência indicam tendência cada vez mais positivamente inclinada”, concluiu a CNC