Saque do auxílio emergencial

Após ter reduzido drasticamente o auxílio emergencial para o valor médio de R$ 250 em 2021, nesta segunda-feira (27), o governo Bolsonaro liberou linha de crédito com juros de 3,99% a.a para afundar ainda mais no endividamento as famílias em situação precária de renda, que já sofrem simultaneamente com o alto desemprego e com a inflação.

Sem ter o que colocar no lugar do auxílio emergencial que se encerra no final de outubro, Bolsonaro e sua equipe econômica propõem uma solução miserável aos brasileiros que não têm renda. Por meio do aplicativo Caixa Tem, o governo liberou crédito de R$ 300 a R$ 1.000, que pode ser parcelado em até 24 meses, por uma taxa de juros de 3.99% ao mês – juros que são mais altos que os praticados no mercado. Segundo o relatório Estatísticas Monetárias e de Crédito, divulgado hoje (27) pelo Banco Central (BC), a taxa média do sistema bancário está em 1,45% ao mês, e o crédito pessoal geral, 2,42% ao mês.

Em meio a carestia dos preços dos alimentos, combustíveis, da conta de luz e do aluguel, do desemprego recorde, juros altos e perda de renda, aqueles que forem tomar um empréstimo de R$ 1.000, em 24 vezes, terão que devolver um empréstimo e meio para a Caixa Econômica Federal (CEF), cerca de 1.572,47, por exemplo.

Neste cálculo não foi incluso o novo aumento da alíquota do imposto sobre operações financeiras (IOF) para pessoas físicas (4,08% a.a), medida decretada por Bolsonaro, que começou a valer na semana passada (20), encarecendo o custo de endividamento tanto para pessoa física quanto para jurídica (2,04% a.a).

Segundo dados do próprio governo, mais de 2,3 milhões de brasileiros estão no Cadastro Único (CadÚnico) à espera de ter acesso ao Bolsa Família. Com a última pesquisa do Datafolha apontando que 59% dos eleitores não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, o inquilino do Palácio do Planalto tenta recuperar terreno com os brasileiros que ele mesmo empurrou para pobreza e extrema pobreza na pandemia, como observou o economista José Luis Oreiro. “Quem parcelar o crédito em 12 meses, pagará um acrescimento de 60% em juros. Isso é criminoso e uma medida eleitoreira”, afirmou o professor da Universidade de Brasília (UnB)”.

Para o economista, “o governo está estimulando o endividamento de pessoas que não têm vínculo formal de emprego, que estão em uma situação precária de renda. Isso é mais uma tentativa de fazer política de assistência social, burlando o teto de gastos. O valor do empréstimo é o mesmo de um benefício social. Mas quem receber terá de devolver com juros”, disse Oreiro ao Antagonista.

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