Com estoques zerados pelo Governo Bolsonaro, preço do leite dispara
O preço do leite disparou nos supermercados de todo o país e a população já chega a encontrar o litro do gênero de primeira necessidade por quase R$ 10 na gôndola. Com a elevação do custo ao produtor por conta do encarecimento de combustíveis, medicamentos e alimentação do gado, a inflação do produto chegou a quase 30% em 12 meses até maio, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ocasionando ainda uma alta nos derivados.
O descontrole nos preços poderia ter sido ao menos minimizado, caso o governo Bolsonaro não tivesse zerado os estoques reguladores na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já no início de seu mandato, deixando o preço do produto sujeito às oscilações internacionais, situação agora agravada pela entressafra, quando a oferta diminui ainda mais. Segundo dados da Conab, em 2010, o governo chegou a estocar 2.921 toneladas de leite, provenientes da agricultura familiar.
Até 2015 os estoques eram utilizados para que o governo pudesse, em situações de menor oferta, colocar os produtos à venda no mercado interno e atender à demanda. Desta forma, evitava-se um desequilíbrio entre oferta e demanda e a consequente alta dos preços. O desmonte da política de estoques reguladores faz com que os brasileiros hoje precisem conviver com a carestia, com os preços no Brasil à mercê do cenário internacional, que remanesce instável com a guerra da Ucrânia.
“Com a valorização do dólar, os preços elevados do petróleo, dos fertilizantes e dos grãos, os custos de produção têm registrado altas sucessivas, comprometendo as margens de rentabilidade e desestimulando a atividade. A redução na produção já é sentida no país inteiro desde meados de 2021, a qual atualmente já recuou a patamares menores que 2018”, explica a Conab em sua análise mensal de maio referente à situação de leite e derivados no país.
Carrinho vazio
Dados da Pesquisa Trimestral do Leite, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, com relação ao preço recebido pelo produtor, nos três primeiros meses de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado, a alta chegou a 21% em Goiás, um dos principais estados produtores, enquanto o atacado registrou alta de 34% e o varejo, de 24,8%.
Mas, com o desemprego e a queda no rendimento, o brasileiro não está conseguindo pagar o preço elevado e precisou tirar o produto do carrinho de compras. “Com um mercado interno ainda bastante fragilizado já se observa queda no consumo”, diz a análise da Conab, segundo a qual, além da menor oferta no campo, a significativa elevação dos custos de produção tem forçado as indústrias a reajustar os preços negociados com os canais de distribuição. A Pesquisa Trimestral do Leite, do IBGE, mostra uma redução de 10,3% no volume de leite adquirido em relação ao mesmo período de 2021.