Com escalada de fome no Brasil, Bolsonaro destrói programa alimentar
O governo de Jair Bolsonaro reduziu o orçamento e está destruindo o programa Alimenta Brasil, antigo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), enquanto a fome avança e já atinge 20 milhões de pessoas no país.
Um levantamento feito pelo UOL mostra que o programa perdeu dinheiro e capacidade de ajudar as famílias necessitadas com o governo Bolsonaro.
Ao passo que em 2012 o orçamento foi de R$ 586 milhões, em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, o Alimenta Brasil, então PAA, teve menos de R$ 100 milhões.
Em 2021, perdeu ainda mais e só investiu R$ 58 milhões na produção de alimentos para doação para famílias carentes.
Até maio de 2022, o programa só empenhou R$ 89 mil, dando R$ 17,8 mil por mês. Mantendo esse ritmo, serão aplicados apenas R$ 213 mil na distribuição de alimentos através do programa.
O Alimenta Brasil faz parte dos programas do governo federal de incentivo à produção rural, mais especificamente à agricultura familiar. O dinheiro do programa é usado para comprar alimentos produzidos por pequenos produtores e distribuir entre as famílias carentes.
O programa foi criado em 2003 com o nome de Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Em 2021, Bolsonaro decidiu mudar o nome do programa para Alimenta Brasil numa tentativa de se apropriar politicamente dele. Neste momento, retirou os critérios de distribuição de recursos que priorizavam regiões com índices de pobreza maiores.
Fontes ouvidas pelo UOL disseram que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal responsável pelo Alimenta Brasil, recebeu uma demanda de R$ 330 milhões para 2022, mas só disponibilizou R$ 20 milhões, que ainda não foram executados.
Agora, grande parte do orçamento do Alimenta Brasil está vinculada ao “orçamento secreto”, como são conhecidas as emendas do relator.
Além de cortar o orçamento, Bolsonaro reduziu a distribuição dos alimentos. Em 2012, haviam 17 mil unidades que recebiam as doações de alimentos para distribuir, mas esse número caiu para 2.535 em 2020.
Os fornecedores, que são as famílias que produzem os alimentos, era de quase 130 mil, em 2012, e passou para 31 mil, em 2020.
O sucateamento acontece ao mesmo tempo em que mais famílias brasileiras estão passando fome por conta da crise econômica e da alta dos preços, causadas pela política econômica desastrosa do governo Bolsonaro.
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), demonstrou que 19 milhões de brasileiros estão passando fome.
Os maiores índices de fome foram encontrados nas regiões Norte (18,1%) e Nordeste (13,8%). Os dados são de 2021.
Além disso, 55,2% das famílias brasileiras vivem com insegurança alimentar, o que significa mais de 116 milhões de pessoas.
Esse número significa um aumento de 54% em relação aos dados de 2018, antes do governo Bolsonaro, quando 36,7% das famílias estavam com insegurança alimentar.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) confirma que a fome entre as famílias brasileiras vem crescendo com Jair Bolsonaro na Presidência.
“A parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento nos últimos 12 meses subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021, atingindo novo recorde da série iniciada em 2006. É a primeira vez desde então que a insegurança alimentar brasileira supera a média simples mundial”, diz a pesquisa.
O deputado Heitor Schuch (PSB-RS), que preside a Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, afirmou que “o que estamos vendo é o governo tirando recurso do setor produtivo, dos programas sociais, dentro daquilo que o governo, desde o primeiro momento, disse que como ia tratar as políticas públicas”.
A inflação para o mês de abril foi a maior nos últimos 26 anos, sendo de 1,06%, e o acumulado de um ano já é de 12,13%, segundo o IBGE.