Na noite desta quarta-feira (28) o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um discurso histórico no Congresso norte-americano. Ele anunciou medidas no valor total de US$ 4 trilhões (cerca de R$ 21,4 trilhões), incluindo ampliação do ensino gratuito, um pacote de infraestrutura para gerar empregos e aumento do imposto para os mais ricos para garantir o financiamento.

Segundo a Casa Branca, a ideia é viabilizar o pacote por meio do aumento em quase duas vezes da alíquota de imposto de renda sobre ganhos de capital acima de US$ 1 milhão, chegando a 39,6%; e também pela elevação da alíquota para famílias com renda superior a US$ 400 mil.

Para o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, consultor do Fórum das Centrais Sindicais, a fala representa um ponto de inflexão ao trazer o debate sobre o Estado e os projetos de desenvolvimento econômico de volta ao jogo.

“É uma mudança radical em relação à política neoliberal que dominou no mundo, que domina inclusive no governo norte-americano. Uma mudança dando centralidade ao desenvolvimento produtivo, fortemente assentado na recuperação do investimento industrial e na importância do investimento para a retomada de milhões de empregos”, comenta.

Segundo ele, por trás do discurso está “a concepção de que o investimento, o emprego e a renda são os principais vetores da promoção do desenvolvimento econômico e social”.

Para o sociólogo, o posicionamento de Biden representa um esforço para dar respostas a uma parcela da população norte-americana que vem sendo progressivamente excluída desde a desindustrialização e, mais recentemente, desde a crise de 2008, à qual se seguiu um processo de concentração de renda e riqueza.

“Há todo um esforço em colocar o Estado como sendo o protagonista, uma nova base do sistema produtivo ancorada fortemente na preservação ambiental”, declarou.

Ainda de acordo com Clemente, “outra dimensão importante é a valorização da organização sindical como elemento constitutivo do sistema democrático”. No início da semana, Joe Biden assinou uma ordem executiva criando uma força-tarefa para promover a organização trabalhista e fortalecer os sindicatos. O fortalecimento das entidades que representam os trabalhadores, que amargam anos de queda no número de filiações, era uma promessa de campanha de Biden.

O sociólogo acredita também que a nova abordagem do governo Biden deve pautar as discussões sobre a recuperação no pós-pandemia em outros países. Entre eles o Brasil, que terá eleições em 2022. “Ele [Biden] coloca uma abordagem inovadora voltando a pontos que no passado foram fundamentais e isso deve abrir uma agenda nova no país, nos processos eleitorais em todo o campo desenvolvimentista, recolocando essa perspectiva novamente no campo de jogo”, acredita.