Com dados do auxílio, governo quer criar banco digital e vender ações
A despeito dos relatos de instabilidade e lentidão na navegação, o aplicativo Caixa Tem, da Caixa Econômica Federal, é hoje um ativo valioso. A ferramenta viabilizou o pagamento do auxílio emergencial e parcela emergencial do FGTS a mais de 100 milhões de pessoas que criaram Poupanças Sociais Digitais. Parte dessa população nunca havia sido integrada à rede bancária.
Pensando no valor dessa rede de dados de cidadãos, que movimentaram R$ 50 bilhões no terceiro trimestre de 2020, o governo pretende transformar o Caixa Tem em banco digital de capital aberto. Matéria publicada nesta segunda-feira (7) pela Folha de São Paulo detalha o plano.
A expectativa é que o Banco Central autorize o funcionamento do novo banco digital até o fim do primeiro trimestre de 2021. A intenção do governo seria vender 49% das ações da nova empresa.
Presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia e vereador eleito pelo PCdoB em Salvador, Augusto Vasconcelos vê potencial lucrativo na criação de um banco digital, mas critica a abertura de capital de mais uma subsidiária.
“A criação do Caixa Tem possibilitou a abertura de mais de 100 milhões de contas. Isso é fruto de um esforço de empresa pública, que tem um conjunto de profissionais altamente qualificados. Infelizmente, a equipe econômica pretende fatiar e desmontar a Caixa Econômica. Querem entregar essa área que tem tudo para ter um potencial inclusive de lucro. Depois do esforço enorme, o governo quer entregar de bandeja esse banco digital a acionistas privados”, afirmou.
No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o governo pode vender subsidiárias de estatais sem autorização do Congresso Nacional, que seria necessária apenas no caso de venda da empresa-matriz. Em agosto deste ano, o governo editou a Medida Provisória (MP) 995, que permite criação e venda de subsidiárias da Caixa Econômica Federal.
Para dirigentes sindicais, a venda das subsidiárias é um subterfúgio para uma implementação progressiva do controle privado, sem passar por aval do Congresso e discussão com a sociedade.